Protocolo Canário

Gostaríamos de compartilhar nossa experiência com o protocolo de segurança chamado Canário.

O Canário é um acordo coletivo que responde a uma análise de risco específica. Temos visto que medidas de segurança criadas no vácuo, sem avaliação de contexto e das nossas vulnerabilidades geralmente levam a uma competição confusa e infrutífera sobre “qual é o melhor aplicativo”.

Um protocolo de segurança é uma combinação contextual de boas práticas e boas ferramentas.

O que é um Canário?

Antigamente, para detectar gases tóxicos em minas ou cavernas, levava-se canários para o subterrâneo. Por ser mais sensível que os seres humanos às condições ambientais, no momento em que um canário morresse era hora de sair da mina.

No contexto de organizações em risco, o protocolo Canário busca obter uma prova de vida periódica dos seus integrantes.

No Mariscotron, durante o período da eleição presidencial de 2018 e após ela, avaliamos que estávamos num cenário de perseguição política mais forte. Nos pareceu plausível a instauração de um estado de exceção mais acentuado devido a ascensão da direita conservadora e a uma classe média raivosa sendo representada politicamente. Além disso, tendo em vista alguns ataques sofridos pela esquerda como um todo nos últimos anos e que pareciam estar sendo incentivados de forma violenta por políticos e influenciadores, decidimos utilizar um mecanismo para certificação de vida. Além do contexto político, levamos em conta também que alguns integrantes se viam com pouca frequência ou sequer estavam na mesma cidade/estado/país.

Como funciona:

Encontre um meio de comunicação que atenda suas necessidades de segurança e que todos os integrantes tenham acesso. Nós escolhemos um grupo no Signal, mas também cogitamos usar uma lista de e-mail com criptografia GPG.

IMPORTANTE: o meio de comunicação usado para o Canário deve ser exclusivo para este fim. Qualquer conversa sobre outro assunto nos faria perder a atenção: será que todo mundo deu um salve?!

Defina a periodicidade da verificação. Use uma medida simples para facilitar a memória, por exemplo, toda terça-feira ou todo dia 5 do mês. Nós escolhemos dar sinal de vida uma vez por semana.

No dia marcado e apenas nele, todos os integrantes devem enviar um sinal para o grupo. Pode ser um alô, uma carinha, uma frase inspiradora. Cuidamos para não haver distração. Lembre-se: o Canário tem apenas um propósito.

Casos de atraso ou não comunicação:

Para todo protocolo de segurança é preciso definir um plano B ou alguma medida de emergência. No caso do Canário, queremos saber que todo mundo está vivo. Porém, o que faremos caso alguém não responda?

Nosso acordo foi tentar um contato pessoal mesmo à distância com o integrante que não se apresentou no dia marcado. Sabemos que esquecimentos e falta de internet podem causar essa falha. Por isso, estipulamos um teto, um tempo máximo que alguém poderia ficar sem se comunicar no Canário. Passado esse prazo, se não houvesse nenhum sinal, o integrante seria procurado pessoalmente/fisicamente ou por terceiros próximos.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *