Wikileaks só revelará vulnerabilidades às grandes corporações se suas exigências forem cumpridas

Nesta semana, Assange enviou um email para a Apple, o Google, a Microsoft e para todas as empresas mencionadas nos documentos descobertos pela organização. Mas segundo uma série de fontes anônimas envolvidas na negociação, antes de compartilhar as falhas ou exploits relatados nos documentos da CIA, o WikiLeaks fez algumas exigências.

Leia mais em: MotherBoard.

“Cofre 7”: As ferramentas de hacking da CIA reveladas

tradução copiada do site do partido pirata.

original em inglês no site do wikileaks

Nota do Tradutor

Esta é uma tradução incompleta do comunicado de imprensa (“press release”) feito pelo Wikileaks hoje mais cedo. Incompleta porque falta a seção de exemplos, onde algumas das ferramentas da CIA são descritas brevemente, e o “FAQ”, que não acrescenta muito. A parte mais importante, a seção de análise, foi traduzida quase que integralmente, ficando fora apenas a última parte sobre análise forense. O comunicado em inglês se encontra aqui. Um esclarecimento importante devido a certas coisas que têm circulado na mídia é: uma lista de aplicativos de mensagens (que inclui Telegram, Whatsapp e outros) têm sido divulgada como se a criptografia desses programas pudesse ser rompida por tecnologias da CIA. Mas não é exatamente isso; o que ocorre é que a CIA encontrou uma forma de contornar essa criptografia, mas não de quebrá-la, hackeando celulares de forma a capturar textos e áudios antes que sejam criptografados pelo programa de mensagens. Além disso, antes de começar a leitura, gostaria de sugerir uma pequena lista de explicações de alguns termos no texto, principalmente dos que não foram traduzidos do inglês.

Vulnerabilidade = Uma falha ou erro no código de um sistema, que permite que uma pessoa faça usos indevidos dele, de uma forma que não foi prevista pelo conjunto de pessoas que o desenvolveu. Quando uma vulnerabilidade não é tornada pública, é chamada de “zero-day”, pois pode ser explorada sem conhecimento de quem desenvolveu o sistema, de forma que desenvolvedores acabam tendo 0 dias para resolver o problema, já que desconhecem sua existência. Neste documento, veremos como a CIA preferiu criar formas de explorar vulnerabilidades a notificar empresas como Apple e Google delas, mantendo as pessoas inseguras.

Exploit = Já um exploit consistiria em instruções ou programas para explorar as falhas conhecidas como vulnerabilidades. Ao manter falhas em segredo, a CIA pode usar esses exploits para seus fins nefastos até o presente momento.

Backdoor = Literalmente, seria uma porta dos fundos. Uma metáfora mais precisa seria dizer que esse tipo de programa é como uma chave secreta para a porta dos fundos de uma casa, escondida em algum lugar para ser usada para invadir a casa. Nesse caso, a casa seria um computador ou outro dispositivo eletrônico.

Segue o comunicado do Wikileaks:

Comunicado de Imprensa

Hoje, dia 7 de março de 2017, Wikileaks começou sua nova série de vazamentos da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA). Nomeada “Vault 7” (Cofre 7) pelo Wikileaks, essa é a maior publicação já feita de documentos confidenciais da agência.

A primeira parte completa da série, “Ano Zero”, inclui 8.761 documentos e arquivos de uma rede de alta segurança isolada, situada dentro do Centro de Inteligência Cibernética da CIA em Langley, Virgínia. A publicação segue uma divulgação introdutória feita mês passado sobre como a CIA pretendia realizar infiltrações em candidaturas e partidos políticos franceses nas eleições presidenciais de 2012.

Recentemente, a CIA perdeu controle da maioria de seu arsenal de hacking, incluindo malware, vírus, trojans (cavalos de Tróia), exploits de vulnerabilidades ainda não publicizadas transformados em arma, sistemas de controle remoto de malware, e documentação associada a essas “armas”. Essa coleção extraordinária, que consiste de centenas e centenas de milhões de linhas de código, garante a quem a possui a capacidade completa de hacking da CIA. O arquivo parece ter circulado de maneira não-autorizada entre ex-hackers do governo e pessoas trabalhando em serviços terceirizados, tendo alguma dessas pessoas fornecido partes do arquivo ao Wikileaks.

“Ano Zero” introduz o escopo e o direcionamento do programa secreto e global de hacking da CIA, seu arsenal de malware, e dezenas de armas destinadas a explorar vulnerabilidades ainda não tornadas públicas de produtos vendidos por empresas europeias e dos EUA, como o Iphone da Apple, o Android da Google, o Windows da Microsoft e até mesmo as TVs da Samsung, que são transformados em microfones secretos.

Desde 2001, a CIA tem ganhado preponderância política e orçamentária com relação à NSA, a Agência de Segurança Nacional. A CIA acabou construindo não apenas sua infame frota de drones, mas também um tipo bem diferente de força secreta, de alcance global — sua própria frota substancial de hackers. A divisão de hacking da CIA a livrou de ter de compartilhar informações de suas próprias operações controversas com a NSA (sua rival burocrática principal) para aproveitar as capacidades de hacking dela.

No final de 2016, a divisão de hacking da CIA, que está subordinada formalmente ao Centro de Inteligência Cibernética da agência, tinha mais de 5.000 usuários registrados e havia produzido mais de mil sistemas de hacking, trojans, vírus e outros malware transformados em armas. Essa é a dimensão do empreendimento da CIA em 2016, seushackers já utilizaram mais código do que o que é necessário para rodar o Facebook. A CIA efetivamente criou sua “própria NSA”, só que com ainda menos prestação de contas, sem responder publicamente se seu gasto orçamentário massivo para duplicar as capacidades de uma agência rival poderia ser justificado.

Em declaração ao Wikileaks, a fonte detalhou questões que afirma precisarem ser discutidas urgentemente em público, incluindo se as capacidades de hacking da CIA excedem os poderes que lhe foram conferidos, e o problema da supervisão pública da agência. A fonte deseja iniciar um debate público sobre segurança, criação, uso, proliferação e controle democrático de armas cibernéticas.

Assim que uma única “arma” cibernética está a solta, ela pode se espalhar pelo mundo em segundos, e pode ser igualmente usada por nações rivais, máfias cibernéticas e hackers adolescentes.

Julian Assange, editor do Wikileaks, afirmou que “Existe um risco extremo de proliferação no desenvolvimento de “armas” cibernéticas. Comparações podem ser feitas entre a proliferação descontrolada de tais “armas”, que resulta da incapacidade de contenção combinada com seu alto valor de mercado, e o mercado global de armas. Mas o significado de “Ano Zero” vai muito além da escolha entre guerra e paz cibernéticas. Essa publicação é também excepcional das perspectivas política, legal e forense”.

O Wikileaks revisou cuidadosamente a publicação de “Ano Zero” e publicou documentos substantivos ao mesmo tempo em que evitou a distribuição de armas cibernéticas prontas para uso, até que surja um consenso sobre a natureza técnica e política do programa da CIA e sobre como tais “armas” devem ser analisadas, desarmadas e divulgadas.

O Wikileaks também decidiu editar e tornar anônimas algumas informações em “Ano Zero” para uma análise mais profunda. Essas edições incluem dezenas de milhares de alvos da CIA e máquinas de ataque pela América Latina, Europa e Estados Unidos. Apesar de estamos cientes da imperfeição da abordagem escolhida, nós nos mantemos comprometidos com nosso modelo de publicação e notamos que a quantidade de páginas publicadas na primeira parte de “Cofre 7” (“Ano Zero”) já ultrapassa o número total de páginas publicadas nos três primeiros anos dos vazamentos da NSA feitos por Edward Snowden.

Análise

Malware da CIA tem como alvos Iphones, Androids e Smart TVs

Malware da CIA e as ferramentas de hacking são construídas pelo Grupo de Desenvolvimento em Engenharia (EDG), um grupo de desenvolvimento de software dentro do Centro de Inteligência Cibernética, um departamento que faz parte da Diretoria para Inovação Digital da CIA (DDI). A DDI é uma das cinco grandes diretorias da CIA (veja o organograma da CIA para mais detalhes).

O EDG é responsável pelo desenvolvimento, teste e suporte operacional de todos os backdoors, exploits, programas maliciosos, trojans, vírus e qualquer outro tipo de malware usado pela CIA em suas operações secretas ao redor do mundo.

A sofisticação crescente das técnicas de vigilância tem estimulado comparações com o livro 1984 de George Orwell, mas o “Weeping Angel” (Anjo Lamentador), desenvolvido pela Divisão de Dispositivos Embutidos (EDB) da CIA, que infecta Smart TVs, transformando-as em microfones secretos, é certamente sua realização mais emblemática.

O ataque contra as TVs da Samsung foi desenvolvido em cooperação com a agência britânica MI5. Depois da infestação, o Anjo Lamentador coloca a TV alvo em um modo desligado falso, de forma que a pessoa que possui a TV acredita erroneamente que ela está desligada quando não está. Nesse modo desligado falso, a TV passa a operar como um grampo, registrando conversas no ambiente e enviando os registros pela Internet para um servidor secreto da CIA.

Em outubro de 2014, a CIA também estava vendo como infectar sistemas de controle de veículos usados por carros e caminhões modernos. O objetivo de tal controle não é especificado, mas ele permitiria que a CIA realizasse assassinatos praticamente indetectáveis.

A Divisão de Dispositivos Móveis (MDB) da CIA desenvolveu diversos ataques para invadir e controlar smartphones populares. Os celulares infectados podem ser ordenados a enviar para a CIA a geolocalização das pessoas usuárias, mensagens de texto e voz, além de secretamente ativarem a câmera e o microfone.

Apesar da participação minoritária do Iphone no mercado global de smartphones (14,5%) em 2016, uma unidade especializada na Divisão de Dispositivos Móveis da CIA produz malware para infectar, controlar e extrair secretamente dados de iPhones e outros produtos da Apple que rodam o sistema operacional iOS, como iPads. O arsenal da CIA inclui inúmeros programas para explorar vulnerabilidades locais e remotas, desenvolvidos pela CIA ou obtidos através da GCHQ, NSA, FBI ou comprados de funcionários de empresas de armamento cibernético como Baitshop. O foco desproporcional no iOS pode ser explicado pela popularidade do iPhone entre elites sociais, políticas, diplomáticas e empresariais.

Uma unidade semelhante tem como alvo o Android da Google, que é usado para rodar a maioria dos smartphones do mundo (~85%), incluindo os da Samsung, HTC e Sony. 1,15 bilhões de celulares usando Android foram vendidos no ano passado. “Ano Zero” mostra que, em 2016, a CIA havia transformado em armas 24 programas para explorar vulnerabilidades do Android não publicizadas, que ela desenvolveu por conta própria ou obteve da GCHQ, NSA e empresas de armamento cibernético.

Essas técnicas permitiam à CIA que contornasse a criptografia de aplicativos como WhatsApp, Signal, Weibo, Confide, Telegram e Cloakman, hackeando os smartphones onde esses programas rodam e coletando áudios e mensagens antes da criptografia ser aplicada.

 

Malware da CIA tem como alvos os sistemas Windows, OSx, Linux e roteadores

A CIA também faz um esforço bastante grande para infectar e controlar o Windows da Microsoft com seu malware. Isso inclui múltiplas vulnerabilidades não publicizadas, remotas e locais, vírus que destroem “air gaps” (medidas usadas para separar redes seguras fisicamente de redes inseguras), como o “Hammer Drill” (“Furadeira”), que infecta softwares distribuídos em CDs e DVDs, programas para infectar mídias removíveis como USB, sistemas para esconder dados em imagens ou em áreas ocultas de discos (“Brutal Kangaroo”), de forma que as infestações de malware possam continuar funcionando.

Muitos desses esforços são organizados pela Divisão de Implantes Automatizados (AIB), que desenvolveu diversos sistemas de ataque para promover infestações automatizadas e controle de malware da CIA, como os programas “Assassin” e “Medusa”.

Ataques contra a infraestrutura da Internet e servidores web são desenvolvidos pela Divisão de Dispositivos de Rede (NDB) da CIA.

A CIA desenvolveu ataques de malware automatizados de múltiplas plataformas e sistemas de controle cujos alvos incluem Windows, OS X do Mac, Solaris, Linux e outras coisas, como as ferramentas “HIVE”, “Cutthroat” e “Swindle”.

 

Vulnerabilidades ‘acumuladas’ pela CIA’ (“zero days”)

Na esteira dos vazamentos de Edward Snowden sobre a NSA, a indústria de tecnologia dos EUA conseguiu um compromisso da administração Obama de que o poder executivo iria divulgar com frequência regular — ao invés de acumular — vulnerabilidades sérias, exploits, bugs ou “zero days” (vulnerabilidades não publicizadas) para Apple, Google, Microsoft e outras empresas baseadas nos EUA.

Vulnerabilidades sérias não divulgadas às empresas que fabricam os produtos colocam grande parte da população e de infraestruturas críticas em risco diante de serviços de inteligência estrangeiros ou criminosos cibernéticos que descobrem de forma independente a vulnerabilidade, ou ouvem boatos sobre. Se a CIA pode descobrir essas vulnerabilidades, então outras pessoas também podem.

O compromisso do governo dos EUA com o “Vulnerability Equities Process” veio após um lobbying significativo feito pelas empresas de tecnologia dos EUA, que correm risco de perder sua participação no mercado global devido a vulnerabilidades ocultas que sejam percebidas. O governo afirmou que iria divulgar diariamente todas as vulnerabilidades que se espalharam e foram descobertas depois de 2010.

Os documentos em “Ano Zero” mostram que a CIA rompeu os compromissos da administração Obama. Muitas das vulnerabilidades usadas no arsenal de armas cibernéticas da CIA são difundidas e algumas já foram encontradas por agências de inteligência rivais e criminosos cibernéticos.

Como um exemplo, um malware específico da CIA revelado em “Ano Zero” é capaz de penetrar, infectar e controlar programas de celulares Android e iPhone que rodam ou já rodaram contas presidenciais no Twitter. A CIA ataca esse software usando vulnerabilidades que não foram tornadas públicas (“zero days”), possuídas pela CIA; mas se a CIA pode hackear esses celulares, então qualquer pessoa que tenha obtido ou descoberto a vulnerabilidade também pode. Enquanto a CIA mantiver essas vulnerabilidades escondidas da Apple ou da Google (que fabricam os celulares), elas não serão consertadas, e os telefones permanecerão passíveis de invasão.

As mesmas vulnerabilidades existem para a população em geral, incluindo o Gabinete dos EUA, o Congresso, chefes de corporações, administradores de sistemas, oficiais de segurança e engenheiros. Ao esconder essas falhas de seguranças das fabricantes como Apple e Google, a CIA garante que pode hackear qualquer pessoa, deixando todas as pessoas vulneráveis a hackers.

 

Programas de ‘guerra cibernética’ envolvem um sério risco de proliferação

Não é possível manter ‘armas’ cibernéticas sob controle efetivo.

Enquanto a proliferação nuclear tem sido restrita com custos enormes e por infraestruturas visíveis onde material passível de fissão nuclear é reunido até haver suficiente para a produção de uma massa nuclear crítica, ‘armas’ cibernéticas, depois que desenvolvidas, são muito difíceis de conter.

‘Armas’ cibernéticas são apenas programas de computador que podem ser pirateados como qualquer outro. Como elas são inteiramente constituídas de informação, elas podem ser copiadas rapidamente sem qualquer custo marginal.

Armazenar ‘armas’ desse tipo em segurança é um trabalho especialmente difícil, já que as mesmas pessoas que as desenvolvem possuem as habilidades necessárias para fazer cópias secretamente, sem deixar rastros — em alguns casos, usando as próprias ‘armas’ contra as organizações que as guardam. Existem incentivos substantivos para que hackers do governo e consultores arrumem cópias, pois há um “mercado de vulnerabilidades” global que paga de centenas de milhares a milhões de dólares por cópias dessas ‘armas’. De forma semelhante, empresas que conseguem acesso a essas ‘armas’ ocasionalmente as usam para seus próprios objetivos, obtendo vantagens sobre competidores ao vender serviços de hacking.

Ao longo dos últimos três anos, o setor de inteligência dos Estados Unidos, que consiste de agências governamentais como a CIA e a NSA e as empresas contratadas por elas, como a Booze Allan Hamilton, tem sido submetido a uma série sem precedentes de roubos de dados por seus próprios funcionários.

Uma quantidade ainda não divulgada de membros da comunidade de inteligência tem sido detida ou submetida a investigações criminais de âmbito federal por conta de diferentes incidentes.

Em um caso visível, no dia 8 de fevereiro de 2007, um júri federal nos EUA culpou Harold T. Martin III de 20 acusações de uso inapropriado de informações confidenciais. O Departamento de Justiça alegou que obteve de Harold aproximadamente 50.000 gigas de informações que ele teria roubado de programas confidenciais da NSA e da CIA, incluindo o código fonte de diversas ferramentas de hacking.

Assim que uma ‘arma’ cibernética é ‘solta’, ela pode se espalhar pelo mundo em segundos, para ser usada igualmente por nações, máfias cibernéticas e adolescentes hackers.

 

Consulado dos EUA em Frankfurt é uma base secreta de hackers da CIA

Além de suas operações em Langley, Virgínia, a CIA também usa o consulado dos EUA em Frankfurt (Alemanha) como uma base secreta para seus hackers que atuam na Europa, no Oriente Médio e na África.

Hackers da CIA que operam fora do consulado em Frankfurt (“Centro para Inteligência Cibernética na Europa” ou CCIE) recebem passaportes diplomáticos (de cor preta) e cobertura do Departamento de Estado. As instruções para os hackers que chegam através da CIA fazem com que os esforços da contra-inteligência da Alemanha pareçam inconsequentes: “Atravesse rapidamente a alfândega, porque você já memorizou sua história explicando o que você está fazendo, e tudo o que eles fazem é carimbar o seu passaporte”.

Sua história (para esse viagem)
Pergunta: Por que você está aqui?
Resposta: Dando apoio a consultas técnicas no Consulado.

Duas publicações anteriores do Wikileaks oferecem mais detalhes sobre como a CIA aborda procedimentos em alfândegas e triagens secundárias.

Assim que entram em Frankfurt, hackers da CIA podem viajar sem mais verificações nas fronteiras de 25 países europeus que fazem parte do Acordo de Shengen — incluindo França, Itália e Suíça.

Diversos métodos de ataque eletrônico usados pela CIA foram criados para funcionar com proximidade física. Esses métodos são capazes de penetrar redes de alta segurança que estejam desconectadas da Internet, como o banco de dados da polícia. Nesses casos, um oficial, agente ou oficial de uma agência de inteligência aliada, agindo de acordo com instruções recebidas, infiltra-se fisicamente no local de trabalho selecionado como alvo. A pessoa que vai fazer o ataque recebe um dispositivo USB contendo malware desenvolvido pela CIA para esse propósito, que é inserido no computador alvo. Assim a pessoa pode infectar e transferir secretamente dados para sua mídia removível. Para dar um exemplo, um sistema de ataque chamado “Fine Dining” oferece 24 aplicativos disfarçados de programas comuns para ser usado por espiões da CIA. Para pessoas testemunhando o ataque, o espião parece estar rodando um programa para abrir vídeos (como o VLC), vendo slides (Prezi), jogando um jogo para computador (Breakout2, 2048), ou até rodando um antivírus falso (Kaspersky, McAfee, Sophos). Mas enquanto esses aplicativos disfarçados estão na tela, o sistema por trás está sendo infectado e saqueado automaticamente.

 

Como a CIA aumentou dramaticamente os riscos de proliferação

No que é certamente um dos mais assustadores objetivos do setor de inteligência de nossa época, a CIA organizou seu regime de classificação de tal forma que, para a parte mais valiosa no mercado do “Cofre 7” — os malware transformados em arma (“zero days” + implantes), Pontos de Escuta, e sistemas de Comando e Controle (C²) — a agência tem poucos recursos legais.

A CIA tornou esses sistemas não-confidenciais.

A CIA resolver tornar seu arsenal cibernético não-confidencial, é algo que revela como conceitos desenvolvidos para uso militar não são incorporados facilmente no ‘campo de batalha’ da ‘guerra’ cibernética.

Para atacar seus alvos, a CIA normalmente requer que seus implantes se comuniquem com seus programas de controle na Internet. Se implantes da CIA, sistemas de Comando e Controle e software para pontos de escuta fossem confidenciais, oficiais da CIA seriam processados ou mandados embora por violarem regras que proíbem colocar informações confidenciais na Internet. Consequentemente, a CIA tem tornado não-confidencial secretamente a maior parte de seus códigos de espionagem e guerra cibernéticas. O governo dos EUA também não pode estebelecer direitos de cópia (copyrights) sobre esses códigos, devido a restrições postas pela Constituição do país. Isso significa que fabricantes de ‘armas’ cibernéticas e hackers podem “piratear” livremente essas ‘armas’ caso elas sejam obtidas. Antes de tudo, a CIA teve de depender do obscurecimento de seus segredos para protegê-los.

Armas convencionais como mísseis podem ser disparados contra o inimigo (ou seja, em direção a uma área que ainda não foi dominada). A proximidade ou o impacto fazem com que o alvo exploda a munição junto com suas partes confidenciais. Dessa forma, equipes militares não violem regras de confidencialidade atirando munições com partes cujas informações são confidenciais. A munição provavelmente vai explodir. Se isso não ocorrer, não foi intenção da pessoa operando a arma.

Ao longo da última década, as operações de hacking dos EUA tem sido cada vez mais fantasiadas com jargões militares para beber da fonte de recursos financeiros do Departamento de Defesa. Para dar um exemplo, tentativas de “injeção de malware” (jargão comercial) tem sido chamadas de termos que dão a entender que uma arma está sendo disparada. No entanto, a analogia é questionável.

Ao contrário de balas, bombas ou mísseis, a maior parte do malware da CIA é desenhado para viver por dias ou até anos depois de acertar o seu ‘alvo’. Esse malware não “explode com o impacto”, mas infecta permanentemente seu alvo. Para infectar um dispositivo, cópias do malware devem ser colocadas nos dispositivos alvejados, dando a posse física do malware para o alvo. Para roubar secretamente dados e levar de volta para a CIA, ou para aguardar novas instruções, o malware deve se comunicar com os sistemas de Comando e Controle da CIA, que estão em servidores conectados à Internet. Mas, normalmente, esses servidores não possuem autorização para armazenar informações confidenciais, de forma que os sistemas de comando e controle também são tornados não-confidenciais.

Um ‘ataque’ bem sucedido em um sistema computacional selecionado como alvo parece mais com uma série de manobras complexas envolvendo ações em um aquisição hostil de uma empresa, ou com a disseminação de rumores para ganhar controle sobre a liderança de uma organização, e não como um sistema de armas sendo disparado. Se existe uma analogia militar a ser feita, a infestação de um alvo talvez seja parecida com a execução de uma série de manobras militares contra um território alvo, incluindo observação, infiltração, ocupação e exploração.

Lançamento do novo site do CMI Brasil!

É com muita satisfação e alegria, que divulgamos o Lançamento do novo site do CMI Brasil!

Seguimos na luta!

https://midiaindependente.org/?q=novosite

O Centro de Mídia Independente do Brasil acaba de lançar seu novo site após 16 anos de existência. A rede Indymedia, da qual o CMI Brasil faz parte, surgiu em 1999 como uma rede de produtoras e produtores independentes com o lema “Odeia a mídia? Seja a mídia!”. Desde então, vem buscando oferecer “informação alternativa e crítica de qualidade, que contribua para a construção de uma sociedade livre, igualitária, mais justa, solidária e que respeite o meio ambiente”. Defende também a liberdade de acesso e produção de conhecimento, para contribuir com a concretização daqueles ideais.

O nascimento da rede CMI foi um marco na história da comunicação mundial, pois foi pioneira na invenção de softwares e na organização de coletivos que tornaram possível a proliferação de sites de publicação aberta para os movimentos sociais, ou seja, espaços de jornalismo na Internet onde são os próprios leitores publicam a informação. Vale lembrar que, naquela época, ainda não existiam blogs e redes sociais e os espaços livres de publicação aberta foram fundamentais para o avanço das lutas de diversos movimentos sociais.

No Brasil, os coletivos do CMI se organizaram em torno do site midiaindependente.org, que foi ao ar em dezembro de 2000, quando dxs usuárixs com a Internet era passiva. Sua principal característica foi a publicação aberta, que permitia a qualquer pessoa a publicação de seu artigo, foto ou vídeo, rompendo o papel passivo imposto pela mídia corporativa e transformando a prática midiática.

Com o passar dos anos, a realidade tecnológica mudou. Hoje qualquer pessoa pode criar um perfil em redes sociais, blogs, comentar sites de notícias e, dessa forma, expressar suas ideias e mostrar sua produção. A publicação aberta e outras formas de interatividade se tornaram a principal característica da Internet. Porém, trata-se de uma liberdade falsa ou limitada, pois quase toda a interação na Internet é controlada por um pequeno grupo de corporações que guardam e usam toda a informação produzida, além da censura de conteúdos e bloqueio de usuárixs por motivos políticos.

O CMI sempre teve como preocupação em garantir a segurança dxs usuárixs, e outro princípio fundamental é que tanto a segurança como a liberdade de expressão somente são possíveis quando há autonomia de infraestrutura e utilização de softwares livres. O armazenamento autônomo de dados garante também a memória de anos de luta. Agora que os sites comerciais fazem aumentar extraordinariamente a espionagem corporativa e estatal, bem como a exploração comercial das informações fornecidas por usuárixs ativos, esses princípios se tornaram ainda mais evidentes e urgentes.

O novo site não possui mais o mecanismo de publicação aberta mas mantém o seu compromisso em ajudar a descentralizar a oportunidade para que ativistas publicarem de forma soberana, sem os filtros obscuros da corporações comerciais. Isso será feito através de redes de confiança tecidas entre os coletivos do CMI e os diversos movimentos sociais.

Convidamos ativistas e movimentos a publicar neste espaço seus textos, vídeos, áudios e fotos, partilhando informações num espaço comum, enquanto o CMI trabalha para garantir a segurança. Para participar ou publicar basta procurar o coletivo do CMI mais próximo da sua cidade ou criar um novo coletivo local. Atualmente estamos no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Curitiba, Tefé e Salvador. Veja nossa página Seja Voluntária/o ou entre em Contato conosco.

Seguimos na luta,

Odeia a Mídia? Seja a mídia!

Centro de Mídia Independente Brasil

Personagens Escondidas

O filme Hidden Figures, de 2016, conta a história de três mulheres negras, integrantes do grupo segregado de “computadoras” na NASA, que conquistam seu espaço na agência durante a corrida espacial nos anos 1960. Elas sofrem cotidianamente discriminação por serem negras e também mulheres, e para piorar, num ambiente dominado pela arrogância masculina: a engenharia e a computação. As mulheres vêm realizando diversos feitos durante a história da humanidade, mas continuam sendo personagens deliberadamente escondidas, com suas histórias muitas vezes apagadas, quando não literalmente queimadas.

 

 

Inteligência Artificial e a classe média

Segue abaixo uma matéria interessante, mas que merece algumas ressalvas. Deixaremos comentários entre [colchetes].

A ameaça da Inteligência Artificial não é a Skynet. É o fim da classe média

Texto original me inglês

Em fevereiro de 1975, um grupo de geneticistas se reuniu numa pequena cidade da costa da Califórnia para decidir se o trabalho deles iria acarretar o fim do mundo. Esses pesquisadores estavam começando a explorar a ciência da engenharia genética, a manipulação de DNA para criar organismos que não existiam na natureza, e eles não tinham certeza de como essas técnicas afetariam a saúde do planeta e das pessoas. Assim, desceram até o retiro costeiro de Asilomar, um nome que virou sinônimo das diretrizes que eles estabeleceram naquele encontro – uma estrutura ética rigorosa para garantir que a biotecnologia não desencadeasse o apocalipse.

Quarenta e dois anos depois, outro grupo de cientistas se reuniu em Asilomar para pensar num problema similar. Mas, dessa vez, a ameaça não era biológica. Era digital. Em janeiro, os principais pesquisadores de inteligência artificial do mundo foram até a mesma estrada costeira para discutir o seu campo de pesquisa em rápida ascensão e o papel que ele terá no destino da humanidade. Era uma conferência privada – a grandeza do assunto merece alguma privacidade – mas há poucos dias, a organização lançou vários vídeos das falas da conferência, e alguns participantes vêm querendo discutir suas experiências, lançando alguma luz na forma como os pesquisadores da Inteligência Artificial (IA) veem a ameaça do próprio campo.

 

Sim, eles discutiram a possibilidade de que uma superinteligência possa de alguma forma escapar ao controle humano. No fim de um mês, a organização apresentou um conjunto de diretrizes, assinado pelos participantes e outros pesquisadores eminentes da IA, que busca prevenir essa possível distopia. Mas os pesquisadores que foram ao Asilomar também estavam preocupados com um problema mais imediato: o efeito da IA na economia.

“Uma das razões pela qual não gosto de discussões sobre superinteligências é que elas são uma distração para o que é real”, disse Oren Etzioni, CEO do Allen Institute for Artificial Intelligence, que participou da conferência. “Como disse o poeta, tenha menos problemas imaginários e mais reais.”

Num momento em que a administração de Trump tem prometido fazer os EUA voltarem a ser grandiosos através da restauração dos velhos trabalhos industriais, pesquisadores da IA não estão levando isso muito a sério. Eles sabem que esses empregos jamais voltarão, graças em grande parte à sua própria pesquisa, a qual também irá eliminar muitos outros tipos de trabalhos nos próximos anos. Em Asilomar, focaram na real economia dos EUA, nas razões reais para a “esburacação” da classe média. O problema não é a imigração – longe disso. O problema não são as taxas ou regulações do mercado global. É a tecnologia.

A fúria contra as máquinas

Nos EUA, o número de empregos da indústria atingiu seu máximo em 1979 e, desde então, vem decrescendo gradualmente. Ao mesmo tempo, a indústria cresceu gradualmente, sendo que os EUA hoje produzem mais bens do que qualquer outro país, exceto a China. As máquinas não estão apenas tomando o lugar dos seres humanos na linha de montagem. Elas estão fazendo um trabalho melhor. E isso mesmo antes da onda da IA subverter vários outros setores da economia.“Estou pouco preocupado com cenários do tipo Exterminador do Futuro,” disse o economista do MIT Andrew McAfee no primeiro dia em Asilomar. “Se as atuais tendências continuarem, as pessoas irão se rebelar muito antes do que as máquinas.”

McAfee aponta para novos dados coletados que mostram um acentuado declínio na criação de empregos de classe média desde a década de 1980. Agora, a maioria dos novos empregos estão ou na parte mais baixa da escala de salários ou na ponta mais alta. Ele também afirma que essas tendências são reversíveis, que melhorar a educação e dar uma ênfase maior no empreendedorismo e na pesquisa pode ajudar a alimentar novos mecanismos de crescimento [como sempre , os economistas continuam com essa mania infantil pelo crescimento], que as economias precisam antes superar o surgimento de novas tecnologias. Após a sua fala, porém, muitos dos pesquisadores que estavam em Asilomar foram alertá-lo de que a revolução da IA que está a caminho irá eliminar muito mais empregos e muito mais rápido do que ele esperava.

De fato, o surgimento de carros sem motorista é apenas o começo. Novas técnicas de IA estão preparadas para reinventar tudo, da indústria ao serviço de saúde, até Wall Street. Em outras palavras, não são apenas os empregos de chão de fábrica (colarinho azul) que estão em perigo. “Vários dos bambambans da área vieram me dizer: ‘acho que você está subestimando a velocidade da mudança’”, disse McAfee.

Essa ameaça colocou vários pensadores a vislumbrar a ideia da renda básica universal, um salário garantido pelo governo para qualquer pessoa que esteja fora da força de trabalho [a Finlândia está testando essa ideia e a discussão sobre renda básica acontece há anos na Alemanha]. Porém, McAfee acredita que isso apenas pioraria o problema, pois eliminaria o incentivo ao empreendedorismo e a outras atividades que poderiam criar novos empregos à medida que os antigos fossem sendo eliminados [promovido pelo governo conservador (sic), os defensores da renda básica na Finlândia acreditam que ela irá impulsionar a economia e o empreendedorismo]. Outros questionam o efeito psicológico da ideia. “Uma renda básica universal não dá dignidade às pessoas ou protege-as do tédio e do vício,” disse Etzioni [hoje, a classe média é quem mais sofre de tédio e financia o tráfico de drogas].

Outra coisa que preocupava os pesquisadores era a regulamentação – da própria IA. Alguns temem que depois de restringir a imigração – o que frearia o tipo de empreendedorismo que McAfee defende –, o governo dos EUA irá reprimir a automação e a inteligência artificial. Isso será péssimo para os pesquisadores da IA, mas também para a economia. Se a transformação da IA diminuir seu passo nos EUA, muitos suspeitam que ela apenas irá acelerar em outras partes do mundo, colocando os empregos estadunidenses em um perigo ainda maior devido à competição global.

No fim das contas, ninguém saiu de Asilomar com uma solução garantida para evitar uma reviravolta econômica. “Qualquer um que estiver muito confiante nas suas previsões sobre qualquer coisa a respeito do futuro da IA ou está tirando com sua cara ou com a própria,” disse McAfee.

Assim, esses pesquisadores afirmam que estão empenhados em encontrar respostas. “As pessoas lidam com problemas de maneiras diferentes. Mas não encontrei nenhum pesquisador de IA que não se importe”, disse Etzioni. “As pessoas estão atentas.” E eles estão certos de que evitar o desenvolvimento da IA não é a resposta. E, na verdade, nem é possível – seria como trazer de volta aqueles velhos empregos industriais.

Onde foi que o WhatsApp errou?

Tradução do artigo de 26/01/2017 da EFF Where WhatsApp Went Wrong: EFF’s Four Biggest Security Concerns.

Onde foi que o WhatsApp errou?

Nenhuma tecnologia é 100% segura para todos os usuários, e sempre existem perdas e ganhos em relação à segurança, facilidade de uso e outras considerações. No manual de Autodefesa contra Vigilância (Surveillance Self Defense – SSD), nosso objetivo é destacar tecnologias confiáveis e ao mesmo tempo explicar e chamar atenção para como seus pontos fortes e fracos afetam a privacidade e a segurança do usuário. No caso do WhatsApp, está ficando cada vez mais difícil de explicar adequadamente suas armadilhas de forma clara, compreensível e prática. Tem sido assim especialmente desde o aviso do WhatsApp de que a empresa mudaria seu acordo com os usuários com respeito ao compartilhamento de dados com os outros serviços do Facebook.

Isso é uma pena precisamente por causa dos pontos fortes de segurança do WhatsApp. No fundo, o WhatsApp usa o que há de melhor em troca de mensagens encriptadas: o Protocolo Signal. Isso confere uma ótima garantia de que as mensagens entre você e seus contatos são encriptadas de forma que mesmo o WhatsApp não pode lê-las, que a identidade de seus contatos pode ser verificada e que mesmo se alguém roubar suas chaves de encriptação e for capaz de “grampear” a sua conexão, ele não conseguirá desencriptar as mensagens que você enviou no passado. Na linguagem de criptografia, essas garantias são chamadas de encriptação de ponta a ponta, autenticidade, e sigilo encaminhado (forward secrecy).

Não temos nenhum problema em como essa encriptação é feita. Na verdade, esperamos que o protocolo que o WhatsApp usa se torne amplamente difundido no futuro. Entretanto, estamos preocupados com a segurança do WhatsApp apesar dos melhores esforços do Protocolo Signal. Todo aplicativo é feito de vários componentes: a interface do usuário, o código que interage com o sistema operacional, o modelo de negócios por trás de toda a operação – e os aplicativos de mensagem não são uma exceção. Mudanças nessas funcionalidades circundantes são onde identificamos que um usuário pode superestimar, a ponto de se arriscar, a segurança do WhatsApp.

Abaixo, descrevemos nossas quatro principais preocupações em mais detalhes.

Backups não encriptados

O WhatsApp fornece um mecanismo de salvaguardar mensagens na nuvem. Para fazer isso de forma que as mensagens possam ser restauradas sem uma frase secreta no futuro, esses backups precisam ser armazenados sem encriptação. Na primeira instalação, o WhatsApp te pede para escolher com que frequência você gostaria de salvaguardar suas mensagens: diariamente, semanalmente, mensalmente ou nunca. Em nosso manual, avisamos os usuários para nunca salvaguardarem suas mensagens na nuvem, já que isso entregaria cópias não encriptadas de suas mensagens ao provedor da nuvem. Para que sua comunicação seja de fato segura, todas as pessoas com quem você se comunica devem fazer o mesmo.

Notificações de mudança de chave

Se a chave de encriptação de um contato muda, um aplicativo de mensagens seguro deveria enviar uma notificação e perguntar se você aceita essa mudança. No WhatsApp, entretanto, se um contato muda suas chaves, este fato fica escondido por padrão. Para ser avisado, os usuários têm que procurar pela configuração “Notificações de Segurança” (encontrada em “Segurança” na seção “Conta” das suas configurações) e ativá-la manualmente.

Note que mesmo que você ative esta configuração, você somente será notificado de mudanças de chave após a mensagem em questão ter sido enviada. Se o seu modelo de ameaças tolera ser notificado após um potencial incidente de segurança acontecer, então ativar essa opção pode ser suficiente. Porém, se você é um usuário em alto risco cuja segurança pode ser comprometida por uma única mensagem reveladora, então receber um aviso após o ocorrido é um perigo.

A verificação de chaves é muito importante para prevenir um ataque de Homem no Meio (Man in the Middle attack), no qual uma terceira pessoa se faz passar por um contato seu. Neste tipo de ataque, essa terceira pessoa se coloca no meio da sua comunicação e convence o seu aparelho a enviar mensagens a ele ao invés de para o seu contato, ao mesmo tempo decriptando essas mensagens, possivelmente modificando-as e enviando-as a diante para o seu destinatário original. Se as chaves de um contato mudam repentinamente, isso pode ser a indicação de que você está sofrendo esse tipo de ataque (embora tipicamente isso aconteça simplesmente porque o seu contato comprou um novo telefone e reinstalou o aplicativo).

Aplicativo Web

O WhatsApp fornece uma interface web protegida por HTTPS para seus usuários enviarem e receberem mensagens. Como acontece com todos os websites, os recursos necessários para carregar a aplicação são entregues cada e toda vez que você visita aquele site. Assim, mesmo que o seu navegador suporte criptografia, o aplicativo web pode facilmente ser modificado para uma versão maliciosa a qualquer momento, o que poderia fazer com que suas mensagens fossem entregues a terceiros. Uma opção melhor e mais segura seria fornecer um cliente desktop através de extensões (do navegador) ao invés de uma interface na web.

Compartilhamento de dados com o Facebook

A atualização recente da política de privacidade do WhatsApp anunciou planos de compartilhar dados com a companhia que o possui, o Facebook, assinalando uma mudança significativa nas atitudes do WhatsApp com respeito à privacidade do usuário. Em particular, a linguagem vaga e aberta da atualização da política de privacidade levanta questões sobre exatamente quais informações de usuário o WhatsApp está ou não compartilhando com o Facebook. O WhatsApp anunciou publicamente seus planos para compartilhar os números de telefones dos usuários e dados de uso com o Facebook com o propósito de fornecer aos usuários recomendações mais relevantes de amigos e propaganda. Embora aos atuais usuários do WhatsApp é dado 30 dias para optar por não aderir a essa mudança na sua experiência de usuário do Facebook, eles não podem optar pelo não compartilhamento de dados em si. Isso dá ao Facebook uma capacidade alarmantemente aumentada de olhar a comunicação dos usuários online com respeito a atividades, afiliações e hábitos.

Próximos passos

O WhatsApp e o Facebook poderiam dar alguns passos simples para restaurar nossa confiança nos seus produtos.

  • Simplificar a interface de usuário do WhatsApp para fortalecer a privacidade. Uma configuração que ativasse todas as opções de proteção – tais como desabilitar backups, habilitar notificações de mudança de chave e optar por estar fora do compartilhamento de dados – tornaria muito mais fácil para os usuários ter o controle sobre sua segurança.
  • Fazer uma declaração pública sobre exatamente quais tipos de dados serão compartilhados entre WhatsApp e facebook e como eles serão usados. O WhatsApps precisa decidir certos usos futuros de seus dados através da definição do irá fazer – e, tão importante quanto, o que não irá fazer – com as informações de usuário que coleta.

Até que tais mudanças aconteçam, temos que avisar os usuários para que tomem cuidados extras quando decidirem se e quando se comunicarão usando o WhatsApp. Se você decidir usar o WhatsApp, veja nosso guia para Android e iOS para mais informações sobre como mudar suas configurações para proteger a sua segurança e privacidade.