Verificando a integridade de arquivos

Caso você baixe algum arquivo da internet ou receba-o diretamente de alguém, é possível verificar sua integridade para saber se ele é o mesmo que o original ou foi modificado. Se você é quem está enviando o arquivo, então isso irá garantir que o que você mandou é o que foi recebido. Mostraremos duas formas de fazer isso.

Arquivos assinados

Usaremos o GnuPrivacyGuard para assinar arquivos. É preciso ter previamente um par de chaves GPG. Seu par de chaves mais recente será usado por padrão para criar uma assinatura. Caso deseje assinar com outro usuário, utilize o marcado -u. Todos os comandos de assinatura requerem a senha de acesso à chave privada do usuário assinante.

Assinando

Digite o seguinte comando para criar uma assinatura separada do arquivo:

$ gpg -b arquivo

O resultado será a assinatura chamada:

arquivo.sig

Também é possível criar um novo arquivo assinado, dois em um:

$ gpg -s arquivo

O resultado será o seguinte:

arquivo.gpg

Para criar uma assinatura separada em texto claro, execute:

$ gpg --clearsign arquivo

O resultado será um arquivo de mesmo nome com a extensão .asc. O uso desse tipo de assinatura, entretanto, é limitado pois você pode apenas conferir se a assinatura é válida e não o arquivo em si. Utilize as duas primeiras opções.

Verificando

Para verificar um arquivo corretamente, é preciso ter a chave pública do remetente no seu conjunto de chaves públicas.

Se você recebeu o arquivo e sua assinatura separados, execute:

gpg --verify arquivo.sig arquivo

O resultado positivo será algo assim:

gpg: Signature made Sex 19 Mai 2017 14:52:06 -03 using RSA key ID ####
gpg: Good signature from "usuario <usuario@email.org>"
gpg: AVISO: Esta chave não está certificada com uma assinatura confiável!
gpg:        Não há indicação de que a assinatura pertence ao dono.
Impressão da chave primária: #### #### #### ####

Caso você receba algo assim:

gpg: Signature made Fri 09 Oct 2015 05:41:55 PM CEST using RSA key ID 4F25E3B6
gpg: Can't check signature: No public key

Isso significa que ou você não possui a chave pública da pessoa ou a assinatura foi gerada por outra pessoa e o arquivo deve ser tratado como suspeito.

Se você recebeu um único arquivo com a terminação .gpg, então execute apenas:

$ gpg --verify arquivo.gpg

Comparando os CHECKSUMs

Outra forma de verificar a integridade de um arquivo é comparar o checksum ou hash (resumo) de SHA1 do arquivo recebido com o do original. A função SHA1 é uma função de dispersão criptográfica que gera um código de 160 bits que resume o arquivo.

Se você baixar o arquivo de instalação do GnuPG do site do GnuPG, execute:

$ sha1sum gnupg-2.0.30.tar.bz2

e compare o resultado com o hash anunciado no site. A cara do hash do SHA1 é a seguinte:

a9f024588c356a55e2fd413574bfb55b2e18794a  gnupg-2.0.30.tar.bz2

Esse não é tido como um método tão seguro quanto a assinatura, dado que se alguém consegue alterar um arquivo em trânsito, é possível que também consiga alterar o hash anunciado no site. Mas mesmo assim, comparar os valores de checksum é muito mais confiável do que nada.

Exercícios:

Aqui vão dois exemplos para você exercitar o que aprendeu. Lembre-se de baixar as chaves públicas de quem estiver assinando o arquivo que você deseja baixar.

  1. Baixe a instalação do GnuPG. Verifique a assinatura e compare o checksum.
  2. Baixe a última versão do TailsOS. Verifique o arquivo .ISO com a assinatura disponibilizada no site.

Como usar GPG para criptografar e assinar mensagens via terminal

Introdução

GPG, ou GNU Privacy Guard, é uma implementação criptográfica de chave pública. Ela permite a transmissão segura de informação entre partes e pode ser usada para verificar se a origem de uma mensagem é genuína.

Neste guia, discutiremos como a GPG funciona e como implementá-la. Usaremos comando para Ubuntu 12.04 neste demonstração, mas essas ferramentas estão disponíveis em qualquer distribuição moderna de Linux.

Como a criptografia de Chave Pública funciona

Um problema que muitas pessoas enfrentam é como se comunicar de forma segura e validar a identidade de parte com quem estão falando. Vários esquemas que tentam responder a esta questão requerem, pelo menos em algum ponto, a transferência de uma senha ou outras credenciais de identificação através de um meio inseguro.

Garanta que apenas as pessoas que você quer leiam a mensagem

Para resolver esse problema, GPG conta com um conceito de segurança chamado criptografia de chave pública. A ideia é que você pode dividir os estágios de criptografar e descriptografar da transmissão em duas coisas separadas. Dessa forma, você pode distribuir livremente a parte para criptografar, desde que guarde segura a parte para descriptografar.

Isso permitiria que uma mensagem de transferência de via única fosse criada e criptografada por qualquer pessoa, mas que somente pudesse ser descriptografada pela usuária designada (a única com a chave privada para descriptografar). Se ambas as partes criam os pares de chaves pública/privada e dá uma à outra sua chave pública, ambas podem criptografar mensagens entre si.

Então, neste cenário, cada parte possui sua própria chave privada e a chave pública da outra.

Validar a identidade da remetente

Outra vantagem desse sistema é que a remetente de uma mensagem por “assiná-la” com sua chave privada. A chave pública que a destinatária possui pode ser usada para verificar que a assinatura é de fato enviada pela usuária indicada.

Isto pode impedir uma terceira parte de se fazer passar por outra pessoa (“spoofing”). Também ajuda a assegurar que a mensagem foi transmitida por completo, sem danos ou corrupção de arquivos.

Configurando as chaves GPG

GPG deve vir instalada por padrão no Ubuntu 12.04. Se não for o caso, você pode instalá-la com:

sudo apt-get install gnupg

Para começar a usar GPG para criptografar suas comunicações, você precisa criar um par de chaves. Isso pode ser feito pelo seguinte comando:

gpg --gen-key

Você passará por algumas questões que irão configurar suas chaves.

  • Por favor, selecione o tipo de chave que você quer: (1) RSA e RSA (padrão)
  • Qual o tamanho de chave que você quer? 4096
  • A chave é válida por? 0
  • Isto está correto? y
  • Nome real: your real name here (coloque o nome que desejar)
  • Endereço de Email: seu_email@endereço.net
  • Comentário: Comentário opcional que estará visível na sua assinatura
  • Modificar (N)ome, ©comentário, (E)mail or (O)kay/(Q)uit? O
  • Coloque sua senha: Coloque sua senha de segurança aqui (maiúsculas, minúsculas, dígitos, símbolos)

A esta altura, será preciso entropia para gerar as chaves. Este é basicamente um termo que descreve a quantidade de imprevisibilidade que existe num sistema. GPG usa esta entropia para gerar um conjunto de chaves aleatórias.

O melhor é abrir uma nova janela de terminal e SSH na VPS enquanto o programa roda. Instale algum software, trabalhe, e use seu computador o máximo que puder para que seja gerada a entropia necessária.

Este processo pode levar bastante tempo, dependendo de quanta atividade você consegue gerar no sistema.
Para aumentar a entropia automaticamente dá para usar o seguinte comando:

cat /dev/urandom

Criando um certificado de revogação

Você precisa ter uma forma de invalidar seu par de chaves no caso de acontecer uma falha de segurança, ou no caso de você perder sua chave secreta. Existe um jeito fácil de fazer isso usando o software GPG.

Crie seu certificado assim que fizer seu par de chaves, não quando precisar dele. Essa chave de revogação deve ser gerada com antecedência e mantida em um local separado e seguro, para o caso em que seu computador esteja comprometido ou inoperante. Escreva:

gpg --gen-revoke your_email@address.com

Será pedido uma razão para a revogação. Você pode escolher qualquer uma das opções disponíveis, mas já que isso é feito com antecedência, não é preciso ser específica.

Será oferecida a chance de adicionar um comentário e finalmente confirmar suas escolhas.

Por fim, um certificado de revogação será gerado na tela. Copie-o e cole-o num local seguro, ou imprima-o para uso posterior:

Revocation certificate created.

Please move it to a medium which you can hide away; if Mallory gets
access to this certificate he can use it to make your key unusable.
It is smart to print this certificate and store it away, just in case
your media become unreadable.  But have some caution:  The print system of
your machine might store the data and make it available to others!
-----BEGIN PGP PUBLIC KEY BLOCK-----
Version: GnuPG v1.4.11 (GNU/Linux)
Comment: A revocation certificate should follow

iQIfBCABAgAJBQJSTxNSAh0AAAoJEIKHahUxGx+E15EP/1BL2pCTqSG9IYbz4CMN
bCW9HgeNpb24BK9u6fAuyH8aieLVD7It80LnSg/+PgG9t4KlzUky5sOoo54Qc3rD
H+JClu4oaRpq25vWd7+Vb2oOwwd/27Y1KRt6TODwK61z20XkGPU2NJ/ATPn9yIR9
4B10QxqqQSpQeB7rr2+Ahsyl5jefswwXmduDziZlZqf+g4lv8lZlJ8C3+GKv06fB
FJwE6XO4Y69LNAeL+tzSE9y5lARKVMfqor/wS7lNBdFzo3BE0w68HN6iD+nDbo8r
xCdQ9E2ui9os/5yf9Y3Uzky1GTLmBhTqPnl8AOyHHLTqqOT47arpwRXXDeNd4B7C
DiE0p1yevG6uZGfhVAkisNfi4VrprTx73NGwyahCc3gO/5e2GnKokCde/NhOknci
Wl4oSL/7a3Wx8h/XKeNvkiurInuZugFnZVKbW5kvIbHDWJOanEQnLJp3Q2tvebrr
BBHyiVeQiEwOpFRvBuZW3znifoGrIc7KMmuEUPvA243xFcRTO3G1D1X9B3TTSlc/
o8jOlv6y2pcdBfp4aUkFtunE4GfXmIfCF5Vn3TkCyBV/Y2aW/fpA3Y+nUy5hPhSt
tprTYmxyjzSvaIw5tjsgylMZ48+qp/Awe34UWL9AWk3DvmydAerAxLdiK/80KJp0
88qdrRRgEuw3qfBJbNZ7oM/o
=isbs
-----END PGP PUBLIC KEY BLOCK-----

Como importar as chaves públicas de outras pessoas

GPG seria bem inútil se não fosse possível aceitar chaves públicas das pessoas com quem você quer se comunicar.

Você pode importar a chave pública de alguém de várias formas. Se você conseguiu uma chave pública em formato texto, GPG pode importá-la com o seguinte comando:

gpg --import name_of_pub_key_file

Também existe a possibilidade de que a pessoa com quem você quer se comunicar tenha subido a chave num servidor de chaves públicas. Estes servidores são usados para armazenar chaves públicas do mundo todo.

Um servidor de chaves popular que sincroniza suas informações com uma série de outros servidores é o servidor de chaves do MIT. Você pode procurar pelas pessoas pelos seus nomes ou endereços de email acessando o seguinte site no navegador:

http://pgp.mit.edu/

Você também pode procurar no servidor de chaves a partir do GPG usando o seguinte comando:

gpg --keyserver pgp.mit.edu  --search-keys search_parameters

Como verificas e assinar chaves

Embora você possa distribuir livremente a chave pública que você gerou e as pessoas usem isso para entrar em contato contigo de maneira criptografada, existe ainda uma questão de confiança na transmissão inicial da chave pública.

Verificar a identidade da outra pessoa

Como saber se a pessoa que lhe dá sua chave pública é quem ela diz que é? Em alguns casos, isso pode ser simples. Você pode estar sentado justo ao lado dela, com ambos laptops abertos trocando chaves. Este parece ser um jeito bem seguro de saber que você está recebendo a chave certa.

Mas existem várias outras circunstâncias onde esse contato pessoal não é possível. Pode ser que você não conheça a outra parte pessoalmente, ou que vocês estejam separadas fisicamente pela distância. Se você não quer jamais se comunicar por canais inseguros, verificar a chave pública de alguém pode ser problemático.

Por sorte, ao invés de verificar to uma chave pública de ambas as partes, você pode simplesmente compara a “impressão digital” derivada dessas chaves. Isso lhe assegurará razoavelmente bem que ambas estão usando a mesma informação da chave pública.

Você pode conseguir a impressão digital de uma chave pública digitando:

gpg --fingerprint seu_email@endereco.net
pub   4096R/311B1F84 2013-10-04
      Key fingerprint = CB9E C70F 2421 AF06 7D72  F980 8287 6A15 311B 1F84
uid                  Test User <test.user@address.com>
sub   4096R/8822A56A 2013-10-04

Isso lhe dará uma sequência de caracteres (string ) muito mais manuseável para comparar. Você pode comparar esta sequência (string ) com a própria pessoa, ou com uma pessoa que tenha acesso à dona da chave.

Assinando a chave alheia

Assinar uma chave é dizer ao seu software que você confia na chave que lhe foi dada e que você verificou que aquela chave está associada à pessoa certa.

Para assinar uma chave que você já importou, simplesmente digite:

gpg --sign-key email@exemplo.org

Ter assinado a chave significa que você verificou-a, que você confia que a pessoa que lhe deu a chave é quem ela diz que é. Isso pode ajudar outras pessoas a decidirem se confiam ou não nessa pessoa também. Se alguém confia em você, e ela vê que você assinou a chave daquela pessoa, isso torna mais provável que ela venha a confiar também.

Você deveria conceder à pessoa que você assinou a chave as vantagens da vossa relação de confiança enviando à ela a chave assinada. Você pode fazer isso digitando:

gpg --export --armor email@exemplo.org

Será preciso digitar sua senha novamente. Em seguida, a chave pública dela, assinada por você, aparecerá na tela. Envie para ela para que ela possa se beneficiar do seu “selo de aprovação” quando interagir com outras pessoas.

Quando ela receber essa nova chave assinada, poderá importá-la, adicionando na própria base de dados da GPG a informação de assinatura que você gerou. Ela pode fazer isso digitando?

gpg --import file_name

Como tornar sua chave pública altamente disponível

Nada de ruim pode acontecer se pessoas desconhecidas possuírem sua chave pública.

Por causa disso, pode ser benéfico que você disponibilize sua chave pública. Assim, as pessoas poderão facilmente encontrar sua informação e lhe enviar mensagens seguras, desde a primeira comunicação.

Você pode enviar a qualquer pessoa sua chave pública requisitando-a ao sistema GPG:

gpg --armor --export seu_email@endereco.net
-----BEGIN PGP PUBLIC KEY BLOCK-----
Version: GnuPG v1.4.11 (GNU/Linux)

mQINBFJPCuABEACiog/sInjg0O2SqgmG1T8n9FroSTdN74uGsRMHHAOuAmGLsTse
9oxeLQpN+r75Ko39RVE88dRcW710fPY0+fjSXBKhpN+raRMUKJp4AX9BJd00YA/4
EpD+8cDK4DuLlLdn1x0q41VUsznXrnMpQedRmAL9f9bL6pbLTJhaKeorTokTvdn6
5VT3pb2o+jr6NETaUxd99ZG/osPar9tNThVLIIzG1nDabcTFbMB+w7wOJuhXyTLQ
JBU9xmavTM71PfV6Pkh4j1pfWImXc1D8dS+jcvKeXInBfm2XZsfOCesk12YnK3Nc
u1Xe1lxzSt7Cegum4S/YuxmYoh462oGZ7FA4Cr2lvAPVpO9zmgQ8JITXiqYg2wB3
. . .

Você pode, então, copiá-la e colá-la ou enviá-la por um meio apropriado.

Se você quer publicar sua chave num servidor de chaves, é possível fazer isso manualmente através de formulários disponíveis na maioria dos sites dos servidores.

Outra opção seria fazer isso através da interface GPG?

Encontre sua identificação (ID) de chave digitando:

gpg --list-keys seu_email@endereco.net

A parte destacada é a sua ID de chave. Essa é uma forma curta de fazer referência à chave dentro do software.

pub   4096R/311B1F84 2013-10-04
uid                  Test User <test.user@address.com>
sub   4096R/8822A56A 2013-10-04

Para subir sua chave em determinado servidor de chaves. você pode usar essa sintaxe:

gpg --send-keys --keyserver pgp.mit.edu id_da_chave

Criptografar e descriptografar mensagens com GPG

Você pode facilmente criptografar e descriptografar mensagens após ter configurado suas chaves com uma outra parte.

Criptografar mensagens

Você pode criptografar mensagens usando a flag “—encrypt” na GPG. A sintaxe básica seria:

gpg --encrypt --sign --armor -r outra_pessoa@email.org name_of_file

Os parâmetros basicamente criptografam o email, assinam-no com sua chave privada para garantir que ele vem de você, e gera a mensagem em formato de texto ao invés de bytes puros.

Você deve incluir um segundo “-r” destinatário com o seu próprio endereço de email se você quiser poder ler a mensagem em algum outro momento. Isso acontece porque a mensagem será criptografada para cada chave pública pessoal, e somente será possível descriptografá-la com as chaves privadas correspondentes.

Assim, se ela for criptografada apenas com a chave pública de outras partes, você não conseguirá ver a mensagem novamente, a não ser que de alguma forma você consiga a chave privada delas. Colocar a si mesma como uma segunda destinatária faz com que a mensagem seja criptografada duas vezes separadamente, uma para cada destinatária.

Descriptografar mensagens

Quando você recebe uma mensagem, é só rodar a GPG sobre o arquivo da mensagem:

gpg nome_do_arquivo

O software irá lhe pedir o que for necessário.

Se você está com a mensagem como fluxo de texto, você pode copiá-lo e colá-lo após digitar simplesmente “gpg” sem mais nenhum argumento. Pressione “CTRL-D” para dizer que a mensagem chegou ao fim e a GPG vai descriptografá-la para você.

Manutenção de chaves

Existe vários procedimentos que você precisa realizar para gerenciar sua base de dados de chaves.

Para listar as chaves GPG de outras pessoas na sua base de dados, digite o seguinte comando:

gpg --list-keys

Suas informações sobre chaves podem ficar obsoletas se você depende de informações retiradas de servidores de chaves. Não é desejável que se use chaves revogadas porque isso significaria que você está confiando em chaves potencialmente comprometidas.

Você pode atualizar as informações de chaves digitando:

gpg --refresh-keys

Isso irá buscar novas informações dos servidores de chaves.

Você pode puxar informações de um servidor de chaves específico usando:

gpg --keyserver key_server --refresh-keys

Conclusão

Usar GPG corretamente pode lhe ajudar a tornar seguras suas comunicações com diferentes pessoas. Isso é extremamente útil, especialmente com informações sensíveis, mas também no envio de mensagens comuns e cotidianas.

Devido ao fato de que certas comunicações criptografadas podem ser marcadas por programas de monitoramento, é recomendável que se use criptografia para tudo, não apenas para dados “secretos”. Isso tornará mais difícil para se descobrir quando você está enviando dados importante ou apenas dando um oi.

A criptografia GPG só é útil quando as duas parte usam boas práticas de segurança e estão atentas sobre outras práticas seguras. Ensine regularmente as pessoas com quem você se comunica sobre a importância dessas práticas se você quer ter a possibilidade de uma comunicação segura criptografada.

Original em inglês por Justin Ellingwood

Quais dados seu celular e a rede móvel coletam?

Esse texto saiu no Boletim #15 do site AntiVigilância.org


Quais dados seu celular e a rede móvel coletam?

02/05/2017, por Lucas Teixeira

Introdução

Ao pensarmos sobre vigilância em celulares é comum imaginarmos uma pessoa, grampeando nossas linhas e ouvindo nossas conversas, transcrevendo ou tomando notas do conteúdo, seguindo nossos passos — talvez um agente da inteligência de um governo ou um criminoso trabalhando de uma fábrica abandonada.

Essa prática tradicional da vigilância “direcionada”, que remete à Stasi da Alemanha Oriental e ao modus operandi das várias ditaduras que passaram pelo território latino-americano na segunda metade do século passado certamente ainda está presente nos dias de hoje. Mas ela por vezes eclipsa, principalmente para o público geral, a quantidade de dados sensíveis que já são criados, registrados, transmitidos e processados por todo o caminho desde o celular, passando pelas antenas e fios, até os servidores de email e mensagens instantâneas e a famigerada “nuvem” (que, no fim das contas, é “apenas o computador de outra pessoa”).

Da mesma maneira, ao tentarmos nos livrar dessa vigilância e proteger nossas comunicações, procuramos soluções mágicas como a capa de invisibilidade do Harry Potter, que nos tornarão completamente indetectáveis com o apertar de dois ou três botões ou o instalar de um programa. Como vemos neste e em outros artigos do Boletim 15, as proteções que temos à nossa disposição costumam agir sobre somente uma parte desses dados, seja pelo escopo em que ela pode atuar seja pelo fato de que determinadas trocas e armazenamentos de dados são necessárias para o próprio sistema funcionar.

Neste artigo, mapeamos os dados que estão armazenados ou são coletados pela infraestrutura de comunicação e pelos componentes do seu celular em seu funcionamento normal.

Por dentro do telefone

 

Os três principais sistemas lógicos de um smartphone, ilustrados de forma didática

Nossos smartphones parecem ser um sistema único, mas por baixo do panos há várias CPUs e unidades de memória agindo em conjunto para que eles funcionem. A maneira como os smartphones são construídos, com os sistemas “System on Chip” que já trazem quase todos os componentes condensados em um único chip, torna difícil identificar elementos fisicamente, mas pode-se identificar três computadores principais – cada um com seu próprio sistema operacional em software ou firmware – mais os componentes de rede, todos armazenando informações de identificação importantes:

  • SIM card: embora sua principal função seja armazenar o IMSI (International Mobile Subscriber Identity) e uma chave privada usada para proteger a comunicação com a rede celular, cada chip presente em celulares GSM é um computador autônomo.

    Assim como cartões de banco e outros smartcards, eles podem armazenar múltiplos programas escritos na linguagem Java Card, que podem ser instalados utilizando equipamentos especiais ou pela própria operadora de telefonia através de mensagens SMS de configuração over-the-air (OTA).

    O IMSI é um código de identificação vinculado à pessoa proprietária da linha, e permite à operadora saber que quem está falando de um determinado aparelho celular é o(a) cliente X, e então por exemplo descontar créditos ou aumentar o valor da conta desta pessoa.

  • Baseband modem: este computador, que é muito semelhante e mantém grande compatibilidade com os modems presentes nos primeiros aparelhos celulares, executa um sistema operacional proprietário (de código fechado, mantido sob propriedade intelectual de empresas da indústria de telecomunicações) e mantido em firmware (não pode ser facilmente substituído).

    Na prática, isso significa que ele é uma completa caixa preta. Em sua memória fica registrado o IMEI (International Mobile Equipment Identity), um código que, de maneira análoga ao IMSI, identifica o aparelho celular para a operadora de telefonia. O principal uso do IMEI pelas operadoras é para impedir celulares roubados de serem usados, através de listas desses identificadores mantidas em colaboração com os(as) próprios(as) clientes e/ou com departamentos de polícia.

  • Sistema principal: esse é o computador com maior poder de processamento e armazenamento, que armazena e executa o sistema operacional principal (Android, iOS etc) e todos os aplicativos que você tem instalados, atuando como ponte entre eles e os outros componentes como o baseband modem, as interfaces de rede abaixo, a tela, a câmera, o microfone etc.

    Como os aplicativos executados nesses apicativos podem coletar toda sorte de informações (e, como sabemos, por vezes coletam muito mais do que necessário para seu funcionamento), a quantidade de identificadores que podem estar aqui é grande demais para caber neste artigo. O Código de Publicidade (Android) e o Identificador de Publicidade (iOS) se destacam por serem acessíveis a todos os aplicativos, feitos especificamente para permitir a identificação inequívoca do celular por anunciantes. Ambos podem ter seu uso desativado nas configurações do celular.

  • Wi-fi e Bluetooth: cada um desses componentes tem um “endereço físico” específico (o endereço MAC, de “Media Access Control”) definido no momento de sua fabricação. Se o aparelho está com wi-fi e/ou bluetooth habilitados, ele divulga esses identificadores de tempos em tempos, para quem quiser ouvir, em busca de redes ou dispositivos conhecidos.

    Isso é o que permite que shoppings consigam seguir pessoas para extrair padrões de comportamento e conseguir identificar clientes específicos. Tanto no Android quanto no iOS há maneiras de mudar o endereço MAC apresentado pela interface wi-fi; o iOS especificamente passou a usar endereços descartáveis gerados aleatoriamente para parte do tráfego desde a versão 8.

Telefonia ou Internet?

Além da complexidade dessa estrutura de telecomunicações e do fato de telefonia e Internet se misturarem até mesmo a nível institucional, a convergência de ambas as tecnologias num mesmo telefone celular faz com que seja difícil discernir quais aplicativos ou ações são considerados como telefonia ou como conexão à Internet, que dirá quais dados cada uma dessas interações gera.

No grafo abaixo estão os principais tipos de atividades comuns em smartphones, associados ao tipo de serviço necessário para elas e quais dados são transmitidos (alguns detalhes serão explicados mais adiante):

Caminho da Telefonia

Apesar de hoje em dia nossos smartphones serem “computadores que por acaso também fazem ligações”, o sistema de telefonia celular está intrinsecamente ligado ao funcionamento do aparelho. Seja pelo fato de que muitas pessoas se conectam à Internet por 3G/4G/LTE, seja porque cada vez mais nosso número de celular é usado como meio de identificação e autenticação (como no login através do envio de tokens), o fato de alguém raramente fazer ligações e enviar SMSs não impede a operadora de telefonia de estar monitorando sua localização 24/7.

Simplesmente por estar ligado e dentro da área de cobertura, qualquer aparelho celular está em constante comunicação com as torres de telefonia que estão em seu raio de alcance, à procura da mais próxima que seja de sua operadora e o permita se conectar para enviar e receber ligações e mensagens.

Estas torres, chamadas de Estações Rádio-Base (ERBs), são distribuídas pela operadora por toda a sua área de cobertura, cada uma em uma célula que cobre uma parte do território – daí o nome de telefonia celular. Essas estações, que além da antena têm também computador e espaço de armazenamento, são ligadas à central da operadora que é quem organiza (e cobra) as ligações, mensagens e, no caso da Internet móvel, provê a conexão à rede mundial de computadores.

Ao emitir o seu constante “alô, sou um celular, tem ERBs aí?”, o aparelho transmite tanto seu IMSI (identificador do(a) cliente) quanto seu IMEI (identificador do aparelho). Isso permite com que as operadoras (que mantém um banco de dados que associa esses números aos dados cadastrais) saibam o tempo inteiro em qual célula um(a) determinado(a) cliente está.

A localização a nível de células já é um dado bastante sensível, mas através da combinação dos dados de múltiplas torres usando técnicas como a triangulação, trilateração e multilateração, é possível mapear com bastante precisão os principais endereços e a movimentação de uma pessoa, principalmente em locais urbanos onde há uma concentração maior de antenas por km². Experimentos feitos pelo Open Data City e pelo jornal alemão Die Zeit mostram em visualizações como uma pessoa pode ter sua vida devassada apenas a partir dessas informações.

Também devido a esse comportamento dos celulares, equipamentos comumente chamados de IMSI catchers, antenas espiãs ou Stingrays possibilitam listar os identificadores de pessoas que estão em um determinado local (como foi feito em uma praça da Ucrânia durante uma manifestação).

A princípio mantidos para fins de cobrança e prevenção de fraudes, os CDRs (Call Detail Records, registros detalhados de chamadas) acumulam informações preciosíssimas sobre clientes. Análises avançadas desses bancos de dados podem ser feitas para fins diversos como prever o status socioeconômico de pessoas ou quais delas podem estar perto de trocar de operadora (churn) e visualizar redes sociais formadas por ligações para investigação de crimes. Forças policiais e judiciais podem em muitas jurisdições acessar os dados tanto nas operadoras quanto nas próprias ERBs, prática conhecida como tower dump.

Infelizmente, essa constante transmissão de dados não pode ser contornada por ser parte intrínseca da telefonia celular, exceto desativando o funcionamento do SIM card nas configurações do celular ou o colocando em uma bolsa que o isole de sinais eletromagnéticos (uma “gaiola de Faraday”) – mas aí as funções de celular e Internet móvel do dispositivo também param.

Caminhos da Internet

O caminho que seus dados farão para chegar “à Internet” vai depender do seu tipo de conexão: wi-fi ou móvel / dados.

Ao acessar por wi-fi da sua casa ou de um café, você estará tipicamente se conectando a um roteador, que está ligado a um modem (ou já possui um embutido), que se comunica através de cabos ou ondas de rádio, talvez com intermediários como a central de distribuição do seu bairro, até o provedor de Internet banda larga.

Já ao acessar a Internet através do plano de dados da sua operadora, você está transmitindo dados pelo mesmo caminho que suas ligações e SMSs e que explicamos há pouco. Seus dados relativos ao uso da Internet, no entanto, ficam armazenados somente na central da operadora – a ERB usada registrará somente que você esteve por ali e que se conectou à Internet através dela (tecnicamente pode ser possível que alguém com controle da ERB a programe para registrar isso, mas isso foge do escopo do artigo e, ao que sabemos, da prática comum). Para todos os efeitos, sua operadora é seu provedor de Internet, e geralmente está sob o mesmo arcabouço legal da sua operadora no caso acima.

Em ambos os casos, todas as suas ações na Internet são sempre vinculadas ao endereço IP da sua conexão, designado pelo provedor para o seu celular, no caso da telefonia móvel, ou para o roteador no caso do wi-fi. Os provedores costumam registrar as conexões feitas (endereço IP de origem, endereço IP de destino e data/hora) por meses ou até mesmo anos.

Como muitas vezes um único endereço IP pode ser compartilhado por múltiplas máquinas, ele tecnicamente não identifica as atividades de uma pessoa específica; legalmente, porém, ele pode ser associado à/ao titular do plano de Internet. Além disso, os roteadores registram os endereços MAC que identificam o componente wi-fi do celular e, cruzando seus dados com os registros de conexão do provedor, é possível discernir quais das atividades atribuídas a um endereço IP vieram de um determinado aparelho.

Embora a Internet permita que nos conectemos diretamente às máquinas de outras pessoas, na prática a maior parte do nosso tráfego é direcionado a servidores, máquinas com grande poder de armazenamento e processamento que intermediam nossas comunicações (como as via e-mail e mensagens instantâneas) ou nos servem conteúdo e serviços online (no caso da Web). Eles também têm acesso ao seu endereço IP e podem guardar seus próprios registros, a seu critério e/ou por determinação legal dos países onde ele e e o(a) usuário(a) se encontram, e associar o IP ao seu login, seus dados cadastrais e que ações foram executadas / que páginas foram requisitadas.

Ao usar serviços de VPN ou proxy, os endereços que constarão nos registros do provedor serão todos de conexões suas ao serviço que você utilizar, enquanto o servidor que você está acessando registrará o endereço IP desse mesmo serviço de VPN / proxy. Esse serviço, no entanto, terá acesso a todo o seu fluxo de comunicação e pode, tecnicamente, registrar e inspecionar os dados da mesma forma que o seu provedor poderia numa conexão comum. É recomendado, principalmente se você não conhece e confia no serviço que está usando, garantir que o aplicativo ou site que você está acessando possua sua própria camada de criptografia (como o HTTPS no caso da web e outros tipos de criptografia de transporte e/ou ponta-a-ponta).

Ao se conectar à Web ou outros serviços utilizando o Tor, os registros conterão conexões a diversos nós de entrada da rede em países diferentes, e os endereços IP dos registros no servidor acessado serão pulverizados entre diversos nós de saída também dispersos pelo mundo. Na prática, isso confere maior anonimato (pois não há nenhuma máquina centralizando o tunelamento da conexão como no caso anterior), mas como o tráfego sairá de diversos pontos escolhidos aleatoriamente é ainda mais importante utilizar uma camada extra de criptografia para qualquer assunto sensível (como logins e trocas de dados que possam lhe identificar).

Apanhado geral

FTP com camada de segurança?

De repente me veio a pergunta: será que dá para usar FTP com uma camada de criptografia?

Eis uma breve pesquisa sobre o tema.

O que é FTP?

Segundo a wikipedia:

FTP ou File Transfer Protocol (Protocolo de Transferência de Arquivos) é uma forma bastante rápida e versátil de transferir arquivos, sendo uma das mais usadas na Internet.

O protocolo é especificado na RFC959, resumida logo a seguir.

Um cliente realiza uma conexão TCP para a porta 21 do servidor. Essa conexão, chamada de conexão de controle, permanece aberta ao longo da sessão enquanto uma segunda conexão, chamada conexão de dados, é estabelecida na porta 20 do servidor e em alguma porta do cliente (estabelecida no diálogo entre ambos) como requisitado para a transferência de arquivo. A conexão de controle é utilizada para administração da sessão (comandos, identificação, senhas) entre cliente e servidor utilizando um protocolo semelhante ao Telnet.

FTP pode ser executado em modo ativo ou passivo, os quais determinam como a conexão de dados é estabelecida. No modo ativo, o cliente envia para o servidor o endereço IP e o número da porta na qual ele irá ouvir e então o servidor inicia a conexão TCP. Em situações onde o cliente está atrás de um firewall e inapto para aceitar entradas de conexões TCP, o modo passivo pode ser utilizado. O cliente envia um comando PASV para o servidor e recebe um endereço IP e um número de porta como resposta, os quais o cliente utiliza para abrir a conexão de dados com o servidor.

Acesso aos servidores FTP

O acesso a servidores FTP pode ocorrer de dois modos: através de uma interface ou através da linha de comando, tanto usuários LINUX como usuários Windows podem acessar através dos dois modos. O modo linha de comando está presente em qualquer distribuição LINUX-like e Windows, através do telnet.

A partir de qualquer navegador credenciado (Internet Explorer, Firefox, ou mesmo no Windows Explorer), conforme a norma RFC1738 também é possível aceder a um servidor FTP digitando na barra de endereço:

ftp://[username]:[password]@[servidor]

ou

ftp://[username]:[password]@[servidor]:[porta]

Basicamente, FTP é um protocolo muito simples para transferência de arquivos. Mas e como fica a segurança da conexão com um servidor FTP?

O que encontrei foi a aplicação de uma camada SSL/TLS sobre o FTP tradicional (FTP Secure – FTPS). Uma opção semelhante seria passar (tunneling) a transferência FTP através de uma conexão SSH. Uma outra forma ainda, fácil de confundir, é o SFTP, que é utilizar o protocolo Secure Shell (SSH) para transferir arquivos (SSH File Transfer Protocol).

O FTP Seguro (FTPS)

A Netscape desenvolveu a Secure Sockets Layer (SSL) em 1994 e em meados de 1996 ela foi aplicada sobre o FTP. (Acho sempre interessante lembrar que a SSL só foi virar padrão para a web, através do HTTPS, em 2010, quando um hacker lançou a extensão para Firefox Firesheep. Essa extensão capturava os cookies de logins de sites da web 2.0 como webmail e redes sociais e extraia informações de nome de usuária e senha. Essa falha (exploit) consistia em que os cookies (assim como várias outras informações, como mensagens de email) trafegavam em texto legível pela rede sem criptografia.)

Bom, o FTPS funciona da mesma forma que qualquer implementação que use o SSL (ex. HTTPS para web ou SMTPS para email). O servidor que está sendo acessado envia uma chave pública ao cliente. O servidor precisa fornecer também um certificado para essa chave. É possível criá-los através do OpenSSL e geralmente usa-se uma Autoridade Certificadora (empresa que gerencia certificados) para garantir a autenticidade da chave, mas podemos verificar a chave pública nós mesmo. Ela é então usada por este para enviar uma chamada secreta, criada aleatoriamente. Desta forma, com a autenticação das duas partes, fica estabelecida a troca de dados criptografados entre dois computadores. A principal função do SSL é prover a privacidade da informação e sua integridade. Por isso, ele também evita que o conteúdo dos pacotes transferidos seja alterado.

 

Existem duas formas de invocar essa camada de segurança pelo lado do cliente: uma implícita e outra explícita. No modo implícito, toda a seção FTPS é criptografada. O que a difere do modo explícito é que neste caso o cliente possui controle total sobre quais áreas da conexão serão criptografadas. Ativar ou desativar a criptografia para o canal de controle do FTPS e do canal de dados do FTPS pode acontecer a qualquer momento. A única restrição vem do servidor FTPS, que pode negar comandos baseado numa política de criptografia do servidor (wikipedia.org).

É isso. Deixo o SSH File Transfer Protocol e o FTP através de SSH para outro momento.

Beabá da Criptografia de Ponta-a-Ponta

Beabá da Criptografia de Ponta-a-Ponta

As Revelações do Vault 7 Significam que Criptografia é Inútil?

Se você usou a internet em algum momento desde maio de 2013, provavelmente ouviu falar que deveria usar comunicações encriptadas. As revelações de Edward Snowden de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA registra todas as suas ligações, textos e e-mails impulsionou o desenvolvimento e uso de aplicativos e serviços criptografados. Apenas alguns anos mais tarde, a criptografia é usada em nossa comunicação diária. Se você usa alguma dessas ferramentas de criptografia, provavelmente ouviu a frase “criptografia de ponta-a-ponta”, ou “E2EE” (end-to-end encryption). O nome é direto o suficiente: ponta-a-ponta significa que o conteúdo é encriptado de um ponto final (geralmente seu celular ou computador) a outro ponto final (o celular ou computador do destinatário pretendido de sua mensagem). Mas que tipo de segurança isso promete para você, o usuário?

Desde o início da administração de Donald Trump nos EUA, a polícia alfandegária e de proteção de fronteiras dos EUA (CBP) tem ampliado as ações que invadem a privacidade de viajantes. A CBP tem ordenado tanto cidadãos dos EUA quanto visitantes a logar em seus telefones e notebooks e entregá-los para inspeção. Eles também têm ordenado que viajantes passem suas senhas ou loguem em suas redes sociais. Viajantes que não acatam com essas ordens podem ter seu ingresso no país negado.

No início de março, o Wikileaks publicou uma coleção de documentos vazados (Vault 7) da CIA, incluindo informação sobre vulnerabilidades e brechas de software (exploits) que a CIA pagou por e manteve em segredo do público em geral. Agora que essa informação vazou, já não é apenas a CIA que tem conhecimento sobre essas vulnerabilidades – é todo mundo. O jornal New York Times e outros erroneamente noticiaram que a CIA havia quebrado a criptografia em aplicativos como Signal e WhatsApp, quando de fato o que a CIA fez foi selecionar e comprometer dispositivos Android de pessoas específicas.

Resumindo, essa revelação confirma a importância do uso de comunicação criptografada de ponta-a-ponta, porque impede que adversários estatais realizem vigilância em massa de amplo espectro. A E2EE continua sendo importante.

Muitos relatos ao redor de Vault 7 tem deixado a impressão que apps encriptados como Signal foram comprometidos. Na verdade, o dispositivo (o smartphone) é que está comprometido – o ponto final. Não há motivo para pensarmos que a criptografia em si não funciona.

Limitações: Ponto final em Texto Simples

Primeiro, é importante entender que se você pode ler uma mensagem, ela está em texto simples – ou seja, não está mais encriptada. Na criptografia de ponta-a-ponta, os pontos fracos na cadeia de segurança são você e seu dispositivo e seu destinatário e o dispositivo delx. Se seu destinatário pode ler sua mensagem, qualquer pessoa com acesso ao dispositivo delx também pode ler. Um policial disfarçado poderia ler a mensagem espiando sobre o ombro do seu destinatário, ou a polícia poderia confiscar o dispositivo do seu destinatário e abri-lo a força. Se há qualquer risco de algumas dessas situações desagradáveis acontecerem, você deve pensar duas vezes antes de enviar qualquer coisa que não gostaria de compartilhar com as autoridades.

Essa limitação em particular é relevante também para as recentes revelações feitas no Vault 7, que demonstram como que apps como Signal, WhatsApp e Telegram podem não ser úteis se um adversário (como a CIA) ganha acesso físico ao seu dispositivo ou ao dispositivo de seu contato e é capaz de desbloqueá-lo. Muitos relatos sobre o Vault 7 foram um pouco enganosos, dando a impressão que os apps em si tinham sido comprometidos. Nesse caso, o comprometimento é no nível do dispositivo – no ponto final. A criptografia em si continua sendo boa.

Limitações: Vigilância Pontual

Considerando que você não pode controlar as condições de segurança no destinatário da sua mensagem, você deve considerar a possibilidade que qualquer mensagem que você enviar para essa pessoa poderá ser lida. Ainda que raros, existem casos em que poderes estatais usam vigilância pontual direcionada a alvos individuais. Nesses casos, alvos podem estar operando com dispositivos infectados por malware com a intenção de registrar todas as comunicações que entram e saem. Esse ataque funciona no nível do ponto final, tornando a E2EE inútil contra esses adversários específicos. Por ser difícil de saber se você (ou o destinatário da sua mensagem) são alvos desse tipo de ataque, é sempre melhor evitar por padrão enviar informações muito sensíveis por meios digitais. Atualmente, esse tipo de ataque parece ser raro, mas nunca se deve correr riscos desnecessários.

Limitações: Metadados

A terceira coisa que você precisa saber sobre E2EE é que ela não protege necessariamente seus metadados. Dependendo de como as comunicações são transmitidas, os registros podem ainda conter e mostrar o tamanho e horário da mensagem, assim como remetente e destinatárix. Registros podem também mostrar a localização tanto dx remetente quanto dx destinatárix no momento que a comunicação ocorreu. Apesar de tipicamente isso não ser suficiente para mandar alguém para a cadeia, pode ser útil para provar associações entre pessoas, estabelecer proximidade a cenas de crimes, e rastrear padrões de comunicações. Todos esses pedaços de informações são úteis para estabelecer padrões maiores de comportamento em casos de vigilância direta.

Então… Por quê?

Então, se criptografia de ponta-a-ponta não necessariamente protege o conteúdo de suas comunicações, e ainda assim deixa passar metadados úteis, qual o sentido em usá-la? Uma das coisas mais importantes que a E2EE faz é garantir que seus dados nunca atinjam os servidores de outra pessoa de forma legível. Como a criptografia de ponta-a-ponta inicia no momento que você pressiona “enviar” e persiste até atingir o dispositivo dx destinatárix, quando uma empresa – como o Facebook – é intimada a fornecer os registros de suas comunicações, ela não possui nenhum conteúdo em texto simples para dar. Isso coloca as autoridades em uma posição de que, se precisam conseguir o conteúdo de suas comunicações, serão forçadas a gastar muito tempo e recursos tentando quebrar a criptografia. Nos Estados Unidos, seu direito a um julgamento rápido pode tornar essa evidência inútil para xs promotorxs, que podem não ser capazes de desencriptar a tempo de agradar umx juízx.

Vigilância em Massa

Outro uso útil para a E2EE é dificultar muito a vigilância indiscriminada, feita de arrasto pela NSA e outras órgãos da repressão. Já que não existe um ponto no meio em que suas comunicações não criptografadas possam ser pegas, o que é capturado são os mesmos blocos de texto encriptado disponíveis através de intimação. Vigilância de arrasto é geralmente conduzida coletando quaisquer dados disponíveis e submetendo-os a uma classificação automatizada em vez de análise individual. O uso de criptografia impede que algoritmos peneirem conteúdos específicos, tornando o processo muito mais complicado e geralmente não vantajoso.

Torres de Celular falsas (Stingrays)

Além da coleta de dados que a NSA executa, as polícias estaduais e federal têm, e frequentemente usam, simuladores de torres celulares conhecidos como “capturadores de IMSI” ou “Stingrays”. Capturadores de IMSI fingem ser torres celulares para enganar seu telefone e fazer com que ele dê informações que possam servir para lhe identificar, incluindo sua localização. Simuladores de torres celulares também capturam e registram suas comunicações. Como com outros tipos de interceptação, a criptografia significa que o que é capturado é largamente inútil, a menos que os órgãos da repressão estejam dispostos ao dispendioso trabalho de desencriptá-lo.

Criptografia em Repouso

Em adição ao uso de criptografia de ponta-a-ponta para proteger o conteúdo de suas mensagens enquanto elas estão em trânsito, você também pode usar encriptação total de disco para proteger suas informações enquanto estão armazenadas em seu dispositivo. Criptografia de disco significa que todas as informações em seu dispositivo são indecifráveis sem sua chave de criptografia (geralmente uma palavra-chave), criando um ponto final reforçado que é muito mais difícil de comprometer. Ainda que criptografar seu ponto final não seja necessariamente uma proteção contra os métodos mais insidiosos de vigilância, como malware, a criptografia pode prevenir que adversários que tomam posse de seus dispositivos tirem qualquer informação útil deles.


Criptografia de ponta-a-ponta não é de forma alguma um escudo mágico contra a vigilância feita por adversários Estatais ou indivíduos maliciosos, mas como visibilizado no Vault 7, seu uso pode ajudar a forçar uma mudança de procedimento: ao invés de vigilância de arrasto em massa, ataques direcionados super dispendiosos. Quando aliados ao bom senso, a dispositivos criptografados, e demais práticas de segurança, a E2EE pode ser uma ferramenta poderosa para reduzir significativamente a área de ataque. O uso consistente e habitual de criptografia de ponta-a-ponta pode anular muitas das ameaças de nível inferior e podem até mesmo levar adversários de alto nível a decidir que lhe atacar simplesmente não vale o esforço.

Leitura Adicional

— Por Elle Armageddon

Traduzido do inglês da postagem original em Crimethinc.

Cartilha sobre Teoria da Informação e Privacidade

Original em inglês do site da EFF

Cartilha sobre Teoria da Informação e Privacidade

Se nos perguntarmos se um fato sobre uma pessoa identifica essa pessoa, a resposta não é simplesmente sim ou não. Se tudo o que sabemos sobre ela é o seu código postal, não sabemos quem ela é. Se conhecemos apenas sua data de nascimento, não sabemos quem ela é. Se sabemos somente o seu gênero, não sabemos quem ela é. Mas se soubermos essas três coisas sobre uma pessoa, provavelmente poderemos deduzir sua identidade! Cada um desses fatos pode identificá-la parcialmente.
Existe uma grandeza matemática que nos permite medir o quanto um fato pode revelar de maneira única a identidade de alguém. Essa grandeza [na teoria da informação] é chamada entropia, e geralmente é medida em bits. Intuitivamente, podemos pensar na entropia como sendo a generalização das diferentes possibilidades que existem para uma variável aleatória: se existem duas possibilidades, isso equivale a 1 bit de entropia; se existem quatro possibilidades, temos 2 bits de entropia, etc. Ao adicionar um bit de entropia, duplicamos o número de possibilidades.1

Como existem em torno de 7 bilhões de pessoas no planeta, a identidade de uma pessoa aleatória desconhecida contém um pouco mesmo de 33 bits de entropia (dois elevado a 33 dá 8 bilhões). Quando descobrimos um novo fato sobre uma pessoa, esse fato reduz a entropia da sua identidade em uma certa quantia. Existe uma fórmula para isso:

ΔS = – log2 Pr(X=x)

Onde ΔS é a redução na entropia, medida em bits,2 e Pr(X=x) é simplesmente a probabilidade de que o fato seja verdadeiro para uma pessoa aleatória. Vamos aplicar a fórmula a alguns fatos, só pra ver o que acontece:

Signo astrológico: ΔS = – log2 Pr(signo=capricórnio) = – log2 (1/12) = 3,58 bits de informação
Data de nascimento: ΔS = – log2 Pr(data=2 de janeiro) = -log2 (1/365) = 8,51 bits de informação

Note que se você combinar diversos fatos, pode ser que não descubra nada de novo. Por exemplo, saber o signo de alguém não me diz nada novo se já sei o seu aniversário.3

Nos exemplos acima, assumiu-se que cada signo e data de nascimento tem a mesma probabilidade de acontecer.4 O cálculo também pode ser aplicado para fatos que possuem probabilidades não uniformes. Por exemplo, a probabilidade de que o CEP de uma pessoa desconhecida seja 88200-000 (Tijucas, Santa Catarina) é diferente da probabilidade de que seu CEP seja 35617-000 (Serra da Saudade, Minas Gerais). Em 2010, havia 29.973 pessoas vivendo na área 88200-000, umas 815 no 35617-000 e mais ou menos 7 bilhões de pessoas no planeta.

Saber que meu CEP é 88200-000: ΔS = – log2 (29.973/7.000.000.000) = 17,83 bits
Saber que meu CEP é 35617-000: ΔS = – log2 (815/7.000.000.000) = 23,03 bits
Saber que vivo em Moscou (2013): ΔS = -log2 (11979529/7.000.000.000) = 9,19 bits

 

Quanto de entropia é necessário para identificar alguém?

Em 2010, identificar alguém dentre a população do planeta requeria:

S = log2 (1/7.000.000.000) = 32,7 bits de informação.

Podemos arredondar para 33 bits, assumindo uma posição conservadora.

Por exemplo, se conhecemos o aniversário de alguém e sabemos que seu CEP é 35617-000, temos 8,51 + 23,03 = 31,54 bits de informação sobre ela; isso é quase o suficiente para saber quem ela é: talvez existam algumas poucas pessoas que tenham essas características. Somando com gênero, temos 32,54 bits, e provavelmente podemos dizer quem é a pessoa.5

 

Uma aplicação para navegadores web

Agora, como esse paradigma pode ser usado em navegadores? Acontece que, ademais das comumente discutidas características “identificantes” dos navegadores web, como endereços de IP e cookies de rastreamento, existem diferenças mais sutis entre os navegadores que podem ser usadas para descrevê-las.

Um exemplo significativo é a string de User-Agent, que contém o nome, o sistema operacional e o número exato da versão do navegador, e que é enviada toda vez que você visita um site. Uma string de User-Agent típica seria mais ou menos assim:

Mozilla/5.0 (Windows; U; Windows NT 5.1; en-GB; rv:1.8.1.6) Gecko/20070725 Firefox/2.0.0.6

Como é possível notar, existe bastante “coisa” ali. Acontece que cada uma dessas “coisas” é bastante útil para diferenciar as pessoas na internet. Em outra postagem, publicamos que em média as strings de User-Agent contêm em torno de 10,5 bits de informação identificante, o que significa que se você pegar o navegador de uma pessoa aleatória, apenas uma em 1.500 outras usuárias da internet compartilharão as mesmas strings de User-Agent.

O projeto da EFF Panopticlick é uma pesquisa sobre privacidade para medir quanta informação identificante está sendo transmitida por outras características do navegador. Visite o site do Panopticlick para ver o quão identificante o seu navegador é e ajude-nos na pesquisa.

 

notas:

  • 1. Na verdade, entropia é uma generalização para contar o número de possibilidades, para apontar para o fato de que algumas possibilidades são mais prováveis que outras. Você pode encontrar a fórmula completa aqui.
  • 2.Essa quantidade é chamada de “auto-informação” (“self-information”) ou “surpresa” da observação, pois ela é uma medida de quão “surpreendente” ou inesperada é a nova informação. Ela é de fato medida em relação à variável aleatória que está sendo observada (talvez, a idade de uma pessoa ou onde ela vive), e a nova entropia reduzida para a sua identidade pode ser calculada com base nessa observação.
  • 3.O que acontece quando os fatos são combinados depende se os fatos são independentes. Por exemplo, se você conhece o aniversário e o gênero de alguém, você tem 8,51 + 1 = 9,51 bits de informação sobre sua identidade porque as distribuições de probabilidades de aniversário e gênero são independentes. Mas o mesmo não é verdade para aniversário e signo astrológico. Se você conhece o aniversário, então conhece o signo. Passar a saber o signo não aumenta o que eu sei. Queremos calcular a mudança na entropia condicional da identidade da pessoa em todas as variáveis observadas e podemos fazer isso calculando as probabilidades para novos fatos em relação aos fatos que já sabemos. Assim, temos que ΔS = -log2 Probabilidade(gênero=feminino|data=2 de janeiro) = -log2(1/2) = 1, e ΔS = -log2 Probabilidade(signo=capricórnio|data=2 de janeiro)=-log2(1) = 0. Casos intermediários também são possíveis: se conheço alguém que nasceu em dezembro e depois descubro que ela é de capricórnio, ainda assim ganho uma nova informação: ΔS = -log2 Probabilidade(signo=capricórnio|mês de nascimento=dezembro)=-log2 (10/31) = 1.63 bits.
  • 4. Na verdade,no exemplo do aniversário, deveríamos ter levado em conta a possibilidade de alguém ter nascido em 29 de fevereiro durante um ano bissexto, que no caso seria ΔS =-log2 Pr(1/365.25).
  • 5. Se você está atenta o suficiente, teria dito, “ei! isso não tá certo; às vezes haverá apenas uma pessoa no CEP 35617-000 nascida em 2 de janeiro. A forma correta de formalizar esse problema seria usar a distribuição de frequência real de aniversários no CEP 35617-000.

“Cofre 7”: As ferramentas de hacking da CIA reveladas

tradução copiada do site do partido pirata.

original em inglês no site do wikileaks

Nota do Tradutor

Esta é uma tradução incompleta do comunicado de imprensa (“press release”) feito pelo Wikileaks hoje mais cedo. Incompleta porque falta a seção de exemplos, onde algumas das ferramentas da CIA são descritas brevemente, e o “FAQ”, que não acrescenta muito. A parte mais importante, a seção de análise, foi traduzida quase que integralmente, ficando fora apenas a última parte sobre análise forense. O comunicado em inglês se encontra aqui. Um esclarecimento importante devido a certas coisas que têm circulado na mídia é: uma lista de aplicativos de mensagens (que inclui Telegram, Whatsapp e outros) têm sido divulgada como se a criptografia desses programas pudesse ser rompida por tecnologias da CIA. Mas não é exatamente isso; o que ocorre é que a CIA encontrou uma forma de contornar essa criptografia, mas não de quebrá-la, hackeando celulares de forma a capturar textos e áudios antes que sejam criptografados pelo programa de mensagens. Além disso, antes de começar a leitura, gostaria de sugerir uma pequena lista de explicações de alguns termos no texto, principalmente dos que não foram traduzidos do inglês.

Vulnerabilidade = Uma falha ou erro no código de um sistema, que permite que uma pessoa faça usos indevidos dele, de uma forma que não foi prevista pelo conjunto de pessoas que o desenvolveu. Quando uma vulnerabilidade não é tornada pública, é chamada de “zero-day”, pois pode ser explorada sem conhecimento de quem desenvolveu o sistema, de forma que desenvolvedores acabam tendo 0 dias para resolver o problema, já que desconhecem sua existência. Neste documento, veremos como a CIA preferiu criar formas de explorar vulnerabilidades a notificar empresas como Apple e Google delas, mantendo as pessoas inseguras.

Exploit = Já um exploit consistiria em instruções ou programas para explorar as falhas conhecidas como vulnerabilidades. Ao manter falhas em segredo, a CIA pode usar esses exploits para seus fins nefastos até o presente momento.

Backdoor = Literalmente, seria uma porta dos fundos. Uma metáfora mais precisa seria dizer que esse tipo de programa é como uma chave secreta para a porta dos fundos de uma casa, escondida em algum lugar para ser usada para invadir a casa. Nesse caso, a casa seria um computador ou outro dispositivo eletrônico.

Segue o comunicado do Wikileaks:

Comunicado de Imprensa

Hoje, dia 7 de março de 2017, Wikileaks começou sua nova série de vazamentos da Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA). Nomeada “Vault 7” (Cofre 7) pelo Wikileaks, essa é a maior publicação já feita de documentos confidenciais da agência.

A primeira parte completa da série, “Ano Zero”, inclui 8.761 documentos e arquivos de uma rede de alta segurança isolada, situada dentro do Centro de Inteligência Cibernética da CIA em Langley, Virgínia. A publicação segue uma divulgação introdutória feita mês passado sobre como a CIA pretendia realizar infiltrações em candidaturas e partidos políticos franceses nas eleições presidenciais de 2012.

Recentemente, a CIA perdeu controle da maioria de seu arsenal de hacking, incluindo malware, vírus, trojans (cavalos de Tróia), exploits de vulnerabilidades ainda não publicizadas transformados em arma, sistemas de controle remoto de malware, e documentação associada a essas “armas”. Essa coleção extraordinária, que consiste de centenas e centenas de milhões de linhas de código, garante a quem a possui a capacidade completa de hacking da CIA. O arquivo parece ter circulado de maneira não-autorizada entre ex-hackers do governo e pessoas trabalhando em serviços terceirizados, tendo alguma dessas pessoas fornecido partes do arquivo ao Wikileaks.

“Ano Zero” introduz o escopo e o direcionamento do programa secreto e global de hacking da CIA, seu arsenal de malware, e dezenas de armas destinadas a explorar vulnerabilidades ainda não tornadas públicas de produtos vendidos por empresas europeias e dos EUA, como o Iphone da Apple, o Android da Google, o Windows da Microsoft e até mesmo as TVs da Samsung, que são transformados em microfones secretos.

Desde 2001, a CIA tem ganhado preponderância política e orçamentária com relação à NSA, a Agência de Segurança Nacional. A CIA acabou construindo não apenas sua infame frota de drones, mas também um tipo bem diferente de força secreta, de alcance global — sua própria frota substancial de hackers. A divisão de hacking da CIA a livrou de ter de compartilhar informações de suas próprias operações controversas com a NSA (sua rival burocrática principal) para aproveitar as capacidades de hacking dela.

No final de 2016, a divisão de hacking da CIA, que está subordinada formalmente ao Centro de Inteligência Cibernética da agência, tinha mais de 5.000 usuários registrados e havia produzido mais de mil sistemas de hacking, trojans, vírus e outros malware transformados em armas. Essa é a dimensão do empreendimento da CIA em 2016, seushackers já utilizaram mais código do que o que é necessário para rodar o Facebook. A CIA efetivamente criou sua “própria NSA”, só que com ainda menos prestação de contas, sem responder publicamente se seu gasto orçamentário massivo para duplicar as capacidades de uma agência rival poderia ser justificado.

Em declaração ao Wikileaks, a fonte detalhou questões que afirma precisarem ser discutidas urgentemente em público, incluindo se as capacidades de hacking da CIA excedem os poderes que lhe foram conferidos, e o problema da supervisão pública da agência. A fonte deseja iniciar um debate público sobre segurança, criação, uso, proliferação e controle democrático de armas cibernéticas.

Assim que uma única “arma” cibernética está a solta, ela pode se espalhar pelo mundo em segundos, e pode ser igualmente usada por nações rivais, máfias cibernéticas e hackers adolescentes.

Julian Assange, editor do Wikileaks, afirmou que “Existe um risco extremo de proliferação no desenvolvimento de “armas” cibernéticas. Comparações podem ser feitas entre a proliferação descontrolada de tais “armas”, que resulta da incapacidade de contenção combinada com seu alto valor de mercado, e o mercado global de armas. Mas o significado de “Ano Zero” vai muito além da escolha entre guerra e paz cibernéticas. Essa publicação é também excepcional das perspectivas política, legal e forense”.

O Wikileaks revisou cuidadosamente a publicação de “Ano Zero” e publicou documentos substantivos ao mesmo tempo em que evitou a distribuição de armas cibernéticas prontas para uso, até que surja um consenso sobre a natureza técnica e política do programa da CIA e sobre como tais “armas” devem ser analisadas, desarmadas e divulgadas.

O Wikileaks também decidiu editar e tornar anônimas algumas informações em “Ano Zero” para uma análise mais profunda. Essas edições incluem dezenas de milhares de alvos da CIA e máquinas de ataque pela América Latina, Europa e Estados Unidos. Apesar de estamos cientes da imperfeição da abordagem escolhida, nós nos mantemos comprometidos com nosso modelo de publicação e notamos que a quantidade de páginas publicadas na primeira parte de “Cofre 7” (“Ano Zero”) já ultrapassa o número total de páginas publicadas nos três primeiros anos dos vazamentos da NSA feitos por Edward Snowden.

Análise

Malware da CIA tem como alvos Iphones, Androids e Smart TVs

Malware da CIA e as ferramentas de hacking são construídas pelo Grupo de Desenvolvimento em Engenharia (EDG), um grupo de desenvolvimento de software dentro do Centro de Inteligência Cibernética, um departamento que faz parte da Diretoria para Inovação Digital da CIA (DDI). A DDI é uma das cinco grandes diretorias da CIA (veja o organograma da CIA para mais detalhes).

O EDG é responsável pelo desenvolvimento, teste e suporte operacional de todos os backdoors, exploits, programas maliciosos, trojans, vírus e qualquer outro tipo de malware usado pela CIA em suas operações secretas ao redor do mundo.

A sofisticação crescente das técnicas de vigilância tem estimulado comparações com o livro 1984 de George Orwell, mas o “Weeping Angel” (Anjo Lamentador), desenvolvido pela Divisão de Dispositivos Embutidos (EDB) da CIA, que infecta Smart TVs, transformando-as em microfones secretos, é certamente sua realização mais emblemática.

O ataque contra as TVs da Samsung foi desenvolvido em cooperação com a agência britânica MI5. Depois da infestação, o Anjo Lamentador coloca a TV alvo em um modo desligado falso, de forma que a pessoa que possui a TV acredita erroneamente que ela está desligada quando não está. Nesse modo desligado falso, a TV passa a operar como um grampo, registrando conversas no ambiente e enviando os registros pela Internet para um servidor secreto da CIA.

Em outubro de 2014, a CIA também estava vendo como infectar sistemas de controle de veículos usados por carros e caminhões modernos. O objetivo de tal controle não é especificado, mas ele permitiria que a CIA realizasse assassinatos praticamente indetectáveis.

A Divisão de Dispositivos Móveis (MDB) da CIA desenvolveu diversos ataques para invadir e controlar smartphones populares. Os celulares infectados podem ser ordenados a enviar para a CIA a geolocalização das pessoas usuárias, mensagens de texto e voz, além de secretamente ativarem a câmera e o microfone.

Apesar da participação minoritária do Iphone no mercado global de smartphones (14,5%) em 2016, uma unidade especializada na Divisão de Dispositivos Móveis da CIA produz malware para infectar, controlar e extrair secretamente dados de iPhones e outros produtos da Apple que rodam o sistema operacional iOS, como iPads. O arsenal da CIA inclui inúmeros programas para explorar vulnerabilidades locais e remotas, desenvolvidos pela CIA ou obtidos através da GCHQ, NSA, FBI ou comprados de funcionários de empresas de armamento cibernético como Baitshop. O foco desproporcional no iOS pode ser explicado pela popularidade do iPhone entre elites sociais, políticas, diplomáticas e empresariais.

Uma unidade semelhante tem como alvo o Android da Google, que é usado para rodar a maioria dos smartphones do mundo (~85%), incluindo os da Samsung, HTC e Sony. 1,15 bilhões de celulares usando Android foram vendidos no ano passado. “Ano Zero” mostra que, em 2016, a CIA havia transformado em armas 24 programas para explorar vulnerabilidades do Android não publicizadas, que ela desenvolveu por conta própria ou obteve da GCHQ, NSA e empresas de armamento cibernético.

Essas técnicas permitiam à CIA que contornasse a criptografia de aplicativos como WhatsApp, Signal, Weibo, Confide, Telegram e Cloakman, hackeando os smartphones onde esses programas rodam e coletando áudios e mensagens antes da criptografia ser aplicada.

 

Malware da CIA tem como alvos os sistemas Windows, OSx, Linux e roteadores

A CIA também faz um esforço bastante grande para infectar e controlar o Windows da Microsoft com seu malware. Isso inclui múltiplas vulnerabilidades não publicizadas, remotas e locais, vírus que destroem “air gaps” (medidas usadas para separar redes seguras fisicamente de redes inseguras), como o “Hammer Drill” (“Furadeira”), que infecta softwares distribuídos em CDs e DVDs, programas para infectar mídias removíveis como USB, sistemas para esconder dados em imagens ou em áreas ocultas de discos (“Brutal Kangaroo”), de forma que as infestações de malware possam continuar funcionando.

Muitos desses esforços são organizados pela Divisão de Implantes Automatizados (AIB), que desenvolveu diversos sistemas de ataque para promover infestações automatizadas e controle de malware da CIA, como os programas “Assassin” e “Medusa”.

Ataques contra a infraestrutura da Internet e servidores web são desenvolvidos pela Divisão de Dispositivos de Rede (NDB) da CIA.

A CIA desenvolveu ataques de malware automatizados de múltiplas plataformas e sistemas de controle cujos alvos incluem Windows, OS X do Mac, Solaris, Linux e outras coisas, como as ferramentas “HIVE”, “Cutthroat” e “Swindle”.

 

Vulnerabilidades ‘acumuladas’ pela CIA’ (“zero days”)

Na esteira dos vazamentos de Edward Snowden sobre a NSA, a indústria de tecnologia dos EUA conseguiu um compromisso da administração Obama de que o poder executivo iria divulgar com frequência regular — ao invés de acumular — vulnerabilidades sérias, exploits, bugs ou “zero days” (vulnerabilidades não publicizadas) para Apple, Google, Microsoft e outras empresas baseadas nos EUA.

Vulnerabilidades sérias não divulgadas às empresas que fabricam os produtos colocam grande parte da população e de infraestruturas críticas em risco diante de serviços de inteligência estrangeiros ou criminosos cibernéticos que descobrem de forma independente a vulnerabilidade, ou ouvem boatos sobre. Se a CIA pode descobrir essas vulnerabilidades, então outras pessoas também podem.

O compromisso do governo dos EUA com o “Vulnerability Equities Process” veio após um lobbying significativo feito pelas empresas de tecnologia dos EUA, que correm risco de perder sua participação no mercado global devido a vulnerabilidades ocultas que sejam percebidas. O governo afirmou que iria divulgar diariamente todas as vulnerabilidades que se espalharam e foram descobertas depois de 2010.

Os documentos em “Ano Zero” mostram que a CIA rompeu os compromissos da administração Obama. Muitas das vulnerabilidades usadas no arsenal de armas cibernéticas da CIA são difundidas e algumas já foram encontradas por agências de inteligência rivais e criminosos cibernéticos.

Como um exemplo, um malware específico da CIA revelado em “Ano Zero” é capaz de penetrar, infectar e controlar programas de celulares Android e iPhone que rodam ou já rodaram contas presidenciais no Twitter. A CIA ataca esse software usando vulnerabilidades que não foram tornadas públicas (“zero days”), possuídas pela CIA; mas se a CIA pode hackear esses celulares, então qualquer pessoa que tenha obtido ou descoberto a vulnerabilidade também pode. Enquanto a CIA mantiver essas vulnerabilidades escondidas da Apple ou da Google (que fabricam os celulares), elas não serão consertadas, e os telefones permanecerão passíveis de invasão.

As mesmas vulnerabilidades existem para a população em geral, incluindo o Gabinete dos EUA, o Congresso, chefes de corporações, administradores de sistemas, oficiais de segurança e engenheiros. Ao esconder essas falhas de seguranças das fabricantes como Apple e Google, a CIA garante que pode hackear qualquer pessoa, deixando todas as pessoas vulneráveis a hackers.

 

Programas de ‘guerra cibernética’ envolvem um sério risco de proliferação

Não é possível manter ‘armas’ cibernéticas sob controle efetivo.

Enquanto a proliferação nuclear tem sido restrita com custos enormes e por infraestruturas visíveis onde material passível de fissão nuclear é reunido até haver suficiente para a produção de uma massa nuclear crítica, ‘armas’ cibernéticas, depois que desenvolvidas, são muito difíceis de conter.

‘Armas’ cibernéticas são apenas programas de computador que podem ser pirateados como qualquer outro. Como elas são inteiramente constituídas de informação, elas podem ser copiadas rapidamente sem qualquer custo marginal.

Armazenar ‘armas’ desse tipo em segurança é um trabalho especialmente difícil, já que as mesmas pessoas que as desenvolvem possuem as habilidades necessárias para fazer cópias secretamente, sem deixar rastros — em alguns casos, usando as próprias ‘armas’ contra as organizações que as guardam. Existem incentivos substantivos para que hackers do governo e consultores arrumem cópias, pois há um “mercado de vulnerabilidades” global que paga de centenas de milhares a milhões de dólares por cópias dessas ‘armas’. De forma semelhante, empresas que conseguem acesso a essas ‘armas’ ocasionalmente as usam para seus próprios objetivos, obtendo vantagens sobre competidores ao vender serviços de hacking.

Ao longo dos últimos três anos, o setor de inteligência dos Estados Unidos, que consiste de agências governamentais como a CIA e a NSA e as empresas contratadas por elas, como a Booze Allan Hamilton, tem sido submetido a uma série sem precedentes de roubos de dados por seus próprios funcionários.

Uma quantidade ainda não divulgada de membros da comunidade de inteligência tem sido detida ou submetida a investigações criminais de âmbito federal por conta de diferentes incidentes.

Em um caso visível, no dia 8 de fevereiro de 2007, um júri federal nos EUA culpou Harold T. Martin III de 20 acusações de uso inapropriado de informações confidenciais. O Departamento de Justiça alegou que obteve de Harold aproximadamente 50.000 gigas de informações que ele teria roubado de programas confidenciais da NSA e da CIA, incluindo o código fonte de diversas ferramentas de hacking.

Assim que uma ‘arma’ cibernética é ‘solta’, ela pode se espalhar pelo mundo em segundos, para ser usada igualmente por nações, máfias cibernéticas e adolescentes hackers.

 

Consulado dos EUA em Frankfurt é uma base secreta de hackers da CIA

Além de suas operações em Langley, Virgínia, a CIA também usa o consulado dos EUA em Frankfurt (Alemanha) como uma base secreta para seus hackers que atuam na Europa, no Oriente Médio e na África.

Hackers da CIA que operam fora do consulado em Frankfurt (“Centro para Inteligência Cibernética na Europa” ou CCIE) recebem passaportes diplomáticos (de cor preta) e cobertura do Departamento de Estado. As instruções para os hackers que chegam através da CIA fazem com que os esforços da contra-inteligência da Alemanha pareçam inconsequentes: “Atravesse rapidamente a alfândega, porque você já memorizou sua história explicando o que você está fazendo, e tudo o que eles fazem é carimbar o seu passaporte”.

Sua história (para esse viagem)
Pergunta: Por que você está aqui?
Resposta: Dando apoio a consultas técnicas no Consulado.

Duas publicações anteriores do Wikileaks oferecem mais detalhes sobre como a CIA aborda procedimentos em alfândegas e triagens secundárias.

Assim que entram em Frankfurt, hackers da CIA podem viajar sem mais verificações nas fronteiras de 25 países europeus que fazem parte do Acordo de Shengen — incluindo França, Itália e Suíça.

Diversos métodos de ataque eletrônico usados pela CIA foram criados para funcionar com proximidade física. Esses métodos são capazes de penetrar redes de alta segurança que estejam desconectadas da Internet, como o banco de dados da polícia. Nesses casos, um oficial, agente ou oficial de uma agência de inteligência aliada, agindo de acordo com instruções recebidas, infiltra-se fisicamente no local de trabalho selecionado como alvo. A pessoa que vai fazer o ataque recebe um dispositivo USB contendo malware desenvolvido pela CIA para esse propósito, que é inserido no computador alvo. Assim a pessoa pode infectar e transferir secretamente dados para sua mídia removível. Para dar um exemplo, um sistema de ataque chamado “Fine Dining” oferece 24 aplicativos disfarçados de programas comuns para ser usado por espiões da CIA. Para pessoas testemunhando o ataque, o espião parece estar rodando um programa para abrir vídeos (como o VLC), vendo slides (Prezi), jogando um jogo para computador (Breakout2, 2048), ou até rodando um antivírus falso (Kaspersky, McAfee, Sophos). Mas enquanto esses aplicativos disfarçados estão na tela, o sistema por trás está sendo infectado e saqueado automaticamente.

 

Como a CIA aumentou dramaticamente os riscos de proliferação

No que é certamente um dos mais assustadores objetivos do setor de inteligência de nossa época, a CIA organizou seu regime de classificação de tal forma que, para a parte mais valiosa no mercado do “Cofre 7” — os malware transformados em arma (“zero days” + implantes), Pontos de Escuta, e sistemas de Comando e Controle (C²) — a agência tem poucos recursos legais.

A CIA tornou esses sistemas não-confidenciais.

A CIA resolver tornar seu arsenal cibernético não-confidencial, é algo que revela como conceitos desenvolvidos para uso militar não são incorporados facilmente no ‘campo de batalha’ da ‘guerra’ cibernética.

Para atacar seus alvos, a CIA normalmente requer que seus implantes se comuniquem com seus programas de controle na Internet. Se implantes da CIA, sistemas de Comando e Controle e software para pontos de escuta fossem confidenciais, oficiais da CIA seriam processados ou mandados embora por violarem regras que proíbem colocar informações confidenciais na Internet. Consequentemente, a CIA tem tornado não-confidencial secretamente a maior parte de seus códigos de espionagem e guerra cibernéticas. O governo dos EUA também não pode estebelecer direitos de cópia (copyrights) sobre esses códigos, devido a restrições postas pela Constituição do país. Isso significa que fabricantes de ‘armas’ cibernéticas e hackers podem “piratear” livremente essas ‘armas’ caso elas sejam obtidas. Antes de tudo, a CIA teve de depender do obscurecimento de seus segredos para protegê-los.

Armas convencionais como mísseis podem ser disparados contra o inimigo (ou seja, em direção a uma área que ainda não foi dominada). A proximidade ou o impacto fazem com que o alvo exploda a munição junto com suas partes confidenciais. Dessa forma, equipes militares não violem regras de confidencialidade atirando munições com partes cujas informações são confidenciais. A munição provavelmente vai explodir. Se isso não ocorrer, não foi intenção da pessoa operando a arma.

Ao longo da última década, as operações de hacking dos EUA tem sido cada vez mais fantasiadas com jargões militares para beber da fonte de recursos financeiros do Departamento de Defesa. Para dar um exemplo, tentativas de “injeção de malware” (jargão comercial) tem sido chamadas de termos que dão a entender que uma arma está sendo disparada. No entanto, a analogia é questionável.

Ao contrário de balas, bombas ou mísseis, a maior parte do malware da CIA é desenhado para viver por dias ou até anos depois de acertar o seu ‘alvo’. Esse malware não “explode com o impacto”, mas infecta permanentemente seu alvo. Para infectar um dispositivo, cópias do malware devem ser colocadas nos dispositivos alvejados, dando a posse física do malware para o alvo. Para roubar secretamente dados e levar de volta para a CIA, ou para aguardar novas instruções, o malware deve se comunicar com os sistemas de Comando e Controle da CIA, que estão em servidores conectados à Internet. Mas, normalmente, esses servidores não possuem autorização para armazenar informações confidenciais, de forma que os sistemas de comando e controle também são tornados não-confidenciais.

Um ‘ataque’ bem sucedido em um sistema computacional selecionado como alvo parece mais com uma série de manobras complexas envolvendo ações em um aquisição hostil de uma empresa, ou com a disseminação de rumores para ganhar controle sobre a liderança de uma organização, e não como um sistema de armas sendo disparado. Se existe uma analogia militar a ser feita, a infestação de um alvo talvez seja parecida com a execução de uma série de manobras militares contra um território alvo, incluindo observação, infiltração, ocupação e exploração.

[tecnota] Pidgin: alguns detalhes

Pidgin é um cliente gratuito e livre que permite conectar com diferentes protocolos de chat simultaneamente. Com ele é possível logar com contas de Jabber/XMPP, AIM, ICQ, Google Talk, MSNMessenger, Yahoo!, Bonjour, Gadu-Gadu, IRC e muitas outras, possibilitando concentrar todas as mensagens instantâneas em apenas um programa. Além disso, o Pidgin tem suporte para diversos plugins, sendo o OTR – Off The Record um dos mais importantes por possibilitar conversas seguras através de criptografia de ponta-a-ponta. Esse plugin é a principal razão de o Pidgin ter se tornado o cliente padrão em Sistemas Operacionais com foco em privacidade como o Tails OS e ainda ser relevante mesmo com o passar dos anos.
Criado em 1998, o Pidgin recebe atualizações e está em constante desenvolvimento. Ainda assim, tem sido alvo de críticas pela sua arquitetura ultrapassada e por ter criptografia como um plugin opcional e não como a base de sua arquitetura. Essas críticas ganham um peso extra pelo fato do software ser recomendado para ativistas, jornalistas e informantes (whistleblowers), pessoas que muitas vezes dependem largamente da segurança de suas informações. Pidgin depende de várias bibliotecas (em especial a libpurple), cada qual com uma variedade de bugs e muitas delas ultrapassadas e massivas, compostas de muitas linhas de código, tornando-as muito difíceis de corrigir por completo.
Para atacar esse problema, tem pipocado campanhas para o desenvolvimento de aplicativos mais simples, e portanto mais fáceis de auditar, construídos com encriptação nativa e por padrão. Ao invés da comunidade seguir remendando e corrigindo um software com quase duas décadas e que serve para muitas coisas, mas nenhuma delas com garantia de segurança, desenvolver algo com foco na privacidade. A ideia é que com o objetivo principal de oferecer comunicação instantânea encriptada através de um número reduzido de protocolos, a arquitetura do programa vai ser mais simples, menos vulnerável a ataques e, por que não, mais amigável ao usuário.
Enquanto isso, talvez não tenhamos muita saída, ou usamos Pidgin com suas falhas conhecidas e constantemente remendadas ou usamos aplicativos experimentais e com pouca adesão como Tox, Profanity, Ricochet e Jitsi.

Alternativas ao Google

Traduzido do projeto Me and My Shadow do Coletivo Tactical Tech.

Alternativas ao Google

Da Busca do Google ao Google Maps e o Google Docs, geralmente usamos os serviços do Google sem pensar muito sobre isso. Isso significa um montão de dados nossos indo pro google. Descubra quais serviços alternativos existem.

As alternativas apresentadas nesta página são:

  • livres e de código aberto, e não-comerciais.
  • projetadas para permitir que você tenha algum controle sobre seus dados, e fornecem melhor privacidade e segurança.
  • desenvolvidas mais ou menos independentes umas das outras, o que distribui seus dados, assim como o pode daqueles que possuem ou cuidam dos serviços.

Elas incluem JitsiMeet (chamadas e vídeo-conferências), DuckDuckGo (busca) Firefox and Tor (navegadores), Etherpad (criação textual colaborativa), Open Street Maps (mapas), e outros.

Por que usar alternativas?

Google é uma companhia comercial
Ela funciona na base do lucro. Se ela dizer que “não vende seus dados” é verdade ou não, isso é quase irrelevante. No fim das contas, o que o Google vende é a sua atenção (a propagandas e outras empresas). Para saber como melhor capturar a sua atenção, a com o quê, eles precisam coletar, armazenar e analisar tantos dados quanto for possível. O que nos leva a:

Google possui um monte de informações sobre você
O mote do Google é “Uma conta para tudo”. Quando pensamos em todos os serviços que o Google fornece – Gmail, Google Search, Youtube, Google Maps, Chrome browser tanto para o seu espertofone quanto para computador – e o quão profundamente inter-relacionados estão todos eles, é muita informação detalhada sobre você o que eles estão coletando.

Fichas digitais demais numa única aposta
Google começou apenas como um motor de busca. Desde então, foi se transformando numa das maiores e mais pderosas companhias do mundo. Seria uma boa ideia usar todos os seus serviços e deixar que uma única companhia se torne o nó central que lida com todos os seus dados?

Falta de encriptação ponta a ponta
Os produtos do Google que funcionando através do navegador – gmail, google hangouts e google talk, por exemplo – possuem de fato um nível básico de encriptação, chamado HTTPS. Isso significa que seus dados em trânsito (entre o seu aparelho e o servidor) estão protegidos de olhos externos, mas o Google ainda tem acesso a eles. Nenhum produto do Google, por padrão, possui encriptação ponta a ponta, o que protegeria seus dados inclusive do Google.

Google é uma companhia gringa
É sempre bom lembrar que o seu conteúdo e os seus dados pessoais que o Google possui estarão sujeitos às leis dos EUA.

As alternativas são viáveis?

Talvez você não se empolgue muito em trocar a conveniência do Google por uma promessa abstrata de mais controle sobre seus dados. Porém, pense assim: cada novo serviço alternativo que você usar irá prevenir que o Google adicione mais informações no perfil que ele tem de você.

Motores de Busca

Alternativas para a Busca do Google:

Duck Duck Go

Cookies: por padrão, não usa cookies
Política de Rastreamento: não rastreia e não cria perfis dos usuários
Informação pessoal: não recolhe ou armazena
Encriptação: sim, HTTPS

Searx

Cookies: por padrão, não usa cookies
Política de Rastreamento: não rastreia e não cria perfis dos usuários
Informação pessoal: não recolhe ou armazena
Encriptação: sim, HTTPS
Possuído e administrado por: La Quadrature du Net

StartPage

Cookies: não usa cookies identificadores
Política de rastreamento: não guarda o IP dos seus usuários
Informações Pessoais: não coleta ou compartilha dados pessoais
Encriptação? Sim, HTTPS
Extra: Oferece um serviço gratuito de proxy que permite navegação anônima online

Ixquick

Cookies: não usa cookies identificadores
Política de rastreamento: não guarda o IP dos seus usuários
Informações Pessoais: não coleta ou compartilha dados pessoais
Encriptação? Sim, HTTPS
Extra: Oferece um serviço gratuito de proxy que permite navegação anônima online

 

Video-conferência

Alternativas ao Google Hangout:

Jitsi Meet

Fácil de usar? Sim, vídeo-conferência no navegador
Encriptação? Sim, HTTPS
Aumentar o anonimato: Sim, Jitsi Meet não requer a criação de contas nem requere o acesso à sua lista de contatos. Funciona através da criação de um link usado apenas uma vez que pode ser compartilhado por email ou chat.
Possuída e administrada por: equipe Jitsi.

 

Navegadores

Alternativas ao Google Chrome

Firefox

Fácil de usar? Sim
Aumenta o anonimato? Não, não por padrão. Existe, entretanto, uma gama de extensões e plug-ins disponíveis para aumentar sua privacidade através de, por exemplo, bloqueio de rastreadores. Aqui estão as nossas recomendações. Você também pode customizar suas configurações padrão para administrar seus cookies e seu  histórico de navegação.
Possuída e Admiinstrada por: Mozilla

 Tor Browser

Fácil de usar? Sim
Aumenta o anonimato? Sim, o Tor browser foi criado especificamente para aumentar o seu anonimato, por esconder o seu endereço de IP e outros identificadores únicos do seu navegador. O Tor browser não inclui, por padrão, funcionalidades contra o rastreamento online nem ganha dinheiro com os dados de usuário.
Nota: Esteja atento que o uso do Tor pode levantar uma bandeira vermelha sobre a sua cabeça, então nem sempr epode ser a melhor opção para você. Mais informações sobre o Tor browser aqui.
Possuído e administrado por: projeto Tor

Edição colaborativa de textos

Alternativas ao Google Docs

Etherpad

Fácil de usar? Sim
Aumenta o anonimato? Sim; o Etherpad não exige que você crie uma conta nem exige acesso à sua lista de contatos. Funcionar através de um link único para um bloco de notas que pode ser compartilhado por email ou chat. Além disso, o bloc pode ser protegido por senha, o que evita que pessoas não autorizadas tenha acesso a ele.
Possuído e administrado por: Fundação Etherpad.

[Mais uma sugestão:

ethercalc

Fácil de usar? Sim, é só entrar no site e criar um documento.
Não necessita cadastro, é um software de código aberto e gratuito.]

Mapas

Alternativas ao Google Maps:

Open street map

Fácil de usar? Sim
Possuído e administrado por: comunidade Open Street Map, apoiada pela Fundação Open Street Ma.

Documentos compartilhados

Alternativas ao Google Drive:

OwnCloud

Fácil de usar? Não muito; você precisa rodá-lo por conta própria
Aumenta o anonimato? Sim; Since you’re hosting your cloud storage yourself, you have control over whom your data is shared with.
Encryption: Owncloud enables the encryption of files.
Owned and managed by: OwnCloud.

[Outras opções são:

syncthing

Software rodado em cada um dos seus dispositivos para fazer sincronização de arquivos. Pode-se fazer a sincronia de uma pasta, por exemplo, com outros usuários. Desenvolvido em código aberto, gratuito, encriptado, porém não é muito fácil de botar pra funcionar.

share.riseup.net

Endereço para subir e compartilhar arquivos de no máximo 50MB. Os arquivos são encriptados no navegador e somente em seguida vão para o servidor do riseup. Cada arquivos está endereçado com um link que dura uma semana. Após esse período tanto o link como o arquivo são apagados.]

 

Chat

Alternativas ao Google Talk (para telefone)

Veja a página de Aplicativos de chat alternativos sugeridos pelo Coletivo Tactical Tech.

[Em breve colocaremos nossas próprias sugestões aqui.]

 

Email

Alternativas ao Gmail [As sugestões a seguir são nossas]

Riseup.net

Fácil de usar? Sim. Acesso por Webmail ou programa de e-mail para desktop.
Possuído e administrado por: Coletivo riseup.net.
Aumenta o anonimato? Sim; além da criptografia básica de navegador (https) e de transporte (SSL), o coletivo riseup armazena todos os e-mails de forma criptografada nos seus servidores. Isso significa que nem mesmo as pessoas do coletivo tem acesso aos dados, tornando impossível a venda de suas informações para empresas ou que, no caso de uma ordem judicial, tenham algo útil para entregar para o governo. Além disso, o riseup não envia seus endereços de IP junto com suas mensagens ou armazena esses endereços nos servidores.
Permite acesso via endereço Onion? Sim.

Inventati/Autistici

Fácil de usar? Sim. Acesso por Webmail ou programa de e-mail para desktop.
Possuído e administrado por: Coletivo Autistici/Inventati.
Aumenta o anonimato? Sim; muito similar aos serviços oferecidos pelo coletivo riseup, criptografia básica de navegador e de transporte, nenhum tipo de análise ou venda do conteúdo de suas mensagens, e não armazena seu endereço de IP nos servidores.
Permite acesso via endereço Onion? Sim.

ProtonMail

Fácil de usar? Sim. Acesso apenas por Webmail ou aplicativo Android e iOS. Não permite integração com programa de e-mail para desktop.
Possuído e administrado por: Proton Technologies AG.
Aumenta o anonimato? Sim; Armazena e-mails em servidores criptografados. A única forma de descriptografar as mensagens é com a senha de usuário, que a empresa alega não armazenar. Não escaneia ou arquiva e-mails para vigilância de arrasto ou venda de informações. Não armazena endereços de IP. Oferece outras funções como envio de e-mails com tempo de expiração e criptografia simétrica. Está disponível em uma versão grátis limitada e versões pagas.
Permite acesso via endereço Onion? Sim.

 

 

Facebook tem a capacidade de ler suas msg encriptadas de WhatsApp

tirado da Folha.

Brecha do WhatsApp permite espionar mensagens criptografadas, diz jornal

Um pesquisador da Universidade da Califórnia descobriu uma brecha de segurança do WhatsApp que pode ser usada pelo Facebook e por outras instituições para interceptar e ler mensagens criptografadas enviadas no aplicativo.

De acordo com o jornal “Guardian”, Tobias Boelter, especialista em criptografia e segurança, encontrou o atalho. “Se agências do governo solicitarem ao WhatsApp o registro de mensagens, a empresa pode conceder esse acesso devido a uma mudança de chaves [de segurança]”, disse ele à publicação britânica.

O Facebook, que controla o WhatsApp, afirma que ninguém pode interceptar essas mensagens —nem mesmo a empresa e sua equipe—, o que garante a privacidade dos usuários.

O sistema de segurança gera chaves de segurança exclusivas, por meio do protocolo Signal, desenvolvido pela Open Whisper Systems.

A criptografia “end to end” é um sistema utilizado pelo aplicativo para que a mensagem saia com uma espécie de “cadeado invisível” do dispositivo que a envia e só seja decodificada quando chega ao aparelho do receptor. Nos servidores da empresa, não são retidos nenhum vestígio do conteúdo dessas mensagens.

A segurança do WhatsApp baseia-se na geração de chaves de segurança exclusivas, usando o aclamado protocolo Signal, desenvolvido pela Open Whisper Systems, que é negociado e verificado entre usuários para garantir que as comunicações são seguras e não podem ser interceptadas por um intermediário.

No entanto, o WhatsApp tem a capacidade de forçar a geração de novas chaves de cifração para usuários off-line, sem que remetente e destinatário da mensagem original tenham ciência disso, e pode forçar o remetente a recifrar mensagens com novas chaves e enviá-las de novo, em caso de mensagens que não tenham sido marcadas como entregues.

O destinatário não é informado dessa alteração na criptografia, enquanto o remetente é notificado somente se eles tiverem optado por avisos de criptografia nas configurações e somente após as mensagens terem sido reenviadas. Esta re-criptografia e retransmissão efetivamente permite que o WhatsApp intercepte e leia as mensagens dos usuários.

Segundo o “Guardian”, Boelter relatou a vulnerabilidade ao Facebook em abril de 2016. A resposta foi que a empresa estava ciente do problema, que era um “comportamento esperado” e não estava sendo trabalhado.

Um porta-voz da WhatsApp disse ao “Guardian” que “mais de 1 bilhão de pessoas usam o WhatsApp hoje porque é simples, rápido, confiável e seguro. Sempre acreditamos que as conversas das pessoas devem ser seguras e privadas. No ano passado, demos a todos os nossos usuários um nível de segurança melhor, fazendo com que cada mensagem, foto, vídeo, arquivo e chamada de ponta a ponta sejam criptografados por padrão. À medida que introduzimos recursos como criptografia de ponta a ponta, nos concentramos em manter o produto simples e levar em consideração como ele é usado todos os dias em todo o mundo.”

“Na implementação do protocolo Signal adotada pelo WhatsApp”, acrescentou o porta-voz ao “Guardian”, “temos uma opção de configuração que permite exibir notificações de segurança, e ela notifica usuários sobre alterações em seu código de segurança. Sabemos que o principal motivo para que isso aconteça é que as pessoas troquem de celular ou reinstalem o WhatsApp. Isso acontece porque, em muitas partes do mundo, as pessoas frequentemente trocam de aparelho e de chip. Nessas situações, queremos garantir que as mensagens enviadas a elas sejam entregues e não fiquem perdidas no caminho”.

Steffen Tor Jensen, vice-presidente de segurança da informação e de combate à vigilância digital na Organização Europeia-Bahraini para os Direitos Humanos, verificou as descobertas de Boelter. “O WhatsApp pode efetivamente continuar lançando as chaves de segurança quando os dispositivos estão offline e reenviando a mensagem, sem deixar os usuários saberem da mudança até que ela tenha sido feita, fornecendo uma plataforma extremamente insegura”, disse ele ao jornal.

A professora Kirstie Ball, fundadora do Centro de Pesquisa em Informação, Vigilância e Privacidade, chamou a existência de atalho dentro da criptografia do WhatsApp “uma mina de ouro para agências de segurança” e “uma enorme traição à confiança do usuário”.

“É uma enorme ameaça à liberdade de expressão. Os consumidores dirão, eu não tenho nada a esconder, mas você não sabe que informação é procurada e que conexões estão sendo feitas”, completa.

Ativistas de privacidade disseram que essa vulnerabilidade é uma “enorme ameaça à liberdade de expressão” e advertiram que ela pode ser usada por agências governamentais para espionar as pessoas, que acreditam que suas mensagens são seguras.